quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Gravatá e o último episódio de Evangelion

      Voltei de uma viagem para Gravatá durante o carnaval, com dois amigos e família. Não sei ao certo se gostaria de detalhar a experiência, mas o que queria destacar mais foi ter visto o último episódio de Evangelion quando cheguei em casa.

     Durante a viagem tive alguns conflitos (como sempre). Eu observava como era diferente do outro, isso gerava um grande desconforto de estar com outras pessoas. Pensava que deveria me isolar, que eu nunca conseguiria dar conta de conviver com pessoas tão distintas de mim. Me sentia alienado da realidade do mundo. Não conseguia fazer uma interação satisfatória.

  Essas coisas me fizeram me dar conta de coisas em mim. De padrões de pensamento. Acredito que sou muito introvertido, muito voltado para as minhas coisas, para as minhas reflexões, sentimentos, etc. Ao lidar com outras pessoas gera um conflito, daí vem uma dificuldade muito grande de lidar com tudo isso, de ter que me esforçar para ser ouvido, para me incluir no que está acontecendo. Então aí me isolo. 

   A ideia de ter que me isolar novamente me gerou uma grande angústia. Parecia que tinha que ser algo definitivo, que nunca poderia mais ter que lidar com pessoas. Daí uma sensação muito profunda de solidão. Por mais que pudesse encontrar felicidade em meus interesses, nunca seria de fato auto-suficiente. Daí teria que lidar com o outro extremo, me ausentar completamente de mim, buscar me fundir ao outro. Assumir uma identidade alheia a mim mesmo, assim me violentando.

    Tudo isso estava presente no que Evangelion trata. Um personagem em que sofre justamente com isso. Como preservar a si mesmo? Como manter a própria identidade? Será que o outro me odeia? Todos esses questionamentos aparecem no episódio. Então outras figuras aparecem na consciência de Shinji, dizendo para ele que só poderia se reconhecer diante do outro, ele só poderia se reconhecer como um ser separado do outro, estando com o outro. Ele lida com esse conflitos durante um tempo, se debate com suas inseguranças e medos. Até chegar a conclusão que precisa dos outros, que precisa estar nesse mundo.

   Ver que a introversão não é um meio para se isolar, que pode ser uma condição para estar no mundo me deu outra perspectiva. No episódio ele trata sobre esses vários eus habitando em uma só pessoa. Vários episódios isso é demonstrado. Temos diversas versões de nós mesmo em outras pessoas. Experimentamos diversas realidades. Eu estava em conflito com isso, para mim ou havia um mundo múltiplo de experiências ou uma perspectiva estável da realidade a partir de uma percepção interior. Para mim essas duas visões não conviviam entre si. A partir do episódio percebi que essas duas perspectivas se complementam. No episódio várias perspectivas são tratadas, elas podem dialogar entre si, é possível que elas converjam.

                                        

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