quinta-feira, 4 de março de 2021

Contemplando dois pensamentos

                        Uma coisa vem ocupando minha cabeça. Existe sempre essa dualidade constante entre dois pensamentos conflitantes, duas formas de conceber o mundo. Isso se reflete muito no meu trabalho clínico, na forma como atendo meus clientes e ao mesmo tempo a maneira como encaro a vida, também o que venho refletindo no Cadernos.

                         Aqui permito que minha imaginação flua, não há fronteiras, permito que eu mesmo possa me expressar livremente sem restrições. Isso inclui entrar em contato com perspectivas mais transcendentalistas, aprofundar no próprio eu, trazer a tona o auto-conhecimento. Por outro lado a minha perspectiva clínica adota experienciar a vida sem o advento desse aspecto reflexivo, mas exercer o aspecto experiencial da vida, ver a vida como ela aparece e não tentar desvelar o sentido que nela reside.

                       Estou lendo Fenomenologia e Gestalt-Terapia. Acho uma perspectiva muito interessante, porém uma leitura difícil. Trás uma leitura de mundo através do que ele apresenta para nós, descartando os para si e os em si. Com isso só importa a qualquer atividade humana a compreensão daquilo que ele apreende no campo. A escuta clínica se preocupa com que sujeito faz e diz na clínica do que o conteúdo, das causas. - Entendo que é um visão de mundo muito interessante, porém muitas vezes me parece uma visão desconfortável, que não permite se apropriar das situações e desenvolver algum significado em cima delas.

                       A passo que minhas leituras e a prática clínica me levam para o lado  da Fenomenologia, os trabalhos artísticos no grupo Traços me levam para uma perspectiva mais junguiana, e esse símbolos que são constelados me levam para uma reflexão profunda de quem eu sou e quem estou sendo e para onde devo ir. Me preocupo então se devo de fato fazer essa viagem entre símbolos, mitos e arquétipos de vez e deixar o realismo seco da fenomenologia. Devo afundar nessas águas profundas do meu inconsciente? Ou ficar no lugar seguro do mundo superficial dos meus sentidos? Nesse momento me permito se os dois, deixando um lugar adequado para os dois. 

                        Obviamente sinto falta de estar sempre inundado de leituras, manter minha imaginação ativa, deixar minha mente entretida com minhas meditações sobre a vida e minha alma. Porém o mundo em que pertenço pede que eu finque meus pés, que não me deixe seduzir por fantasias, mas que possa viver o simples de estar aqui-e-agora. Não ser conduzido pelo ego, porém me deixar levar pelos caminhos incertos, me ajustando criativamente. 

                         A partir do meu último post penso se ainda quero voltar a condensar algo, fazer com que algo seja claro para mim, entender qual é meu objetivo, o lugar que quero alcançar ao invés de viver um indefinido, vivenciando apenas. Existe um desejo de materializar algo, fazer com que algo fique claro para mim, objetivo. Agora estou fazendo coisas que me trazem certa desconfiança, sensação de estar confuso. Mas mesmo assim insisto, por quê não vejo outra forma para a atual situação. Esse equilíbrio difícil porém necessário está sendo cada vez mais exercido, demando manter uma organização mínima no que irei fazer.

                                 

                          

Nenhum comentário:

Postar um comentário

       Percebo que as coisas estão mudando. Sinto um certo receio, não sei para onde isso vai. Percebo que pequenas mudanças estão acontecen...