quinta-feira, 11 de março de 2021

Percepção da realidade

                           Lendo sobre Fenomenologia me veio uma compreensão de como percebemos o mundo. Pode-se compreender o mundo através de uma visão unificada do que é a realidade, porém essa realidade é uma construção e que constantemente é cindida, constantemente se reconfigura. 

                            Isso me fez compreender melhor a visão da Gestalt-Terapia, condiz muito com o que já intuía. Os fenômenos não são algo pertencente ao mundo ou ao sujeito, não existe nada que possa ser considerado puro, sempre é uma constituição de uma percepção. Isso não quer dizer que nada existe no mundo, o que quer dizer que nossa percepção não se encontra essencialmente no mundo. 

                            Então, os conceitos que criamos para nós mesmos não são estáticos, eles não se estabelecem em um significado, mas é uma produção constante de significados. Isso me permite entender que podemos interpretar o ambiente e mesmo assim essa interpretação não conseguir abarcar a totalidade que ele é. Talvez então a vivência dessas coisas através de nosso juízo não pode resumir a coisa. A coisa é uma potência, é sempre uma capacidade de vir a ser e a minha interpretação sempre pode sofrer mutações através dessa potencialidade.

                             Isso tem um ponto positivo, pois eu não preciso me limitar às boas experiências do passado, o novo sempre adiciona algo a minha vida, então é só ser capaz de deixar as coisas acontecerem. Porém, por outro lado, não existe uma visão de vida que permaneça, que eu possa me apoiar para poder investir nisso. Fazer escolhas, projetando um futuro, que possa inspirar meu presente, essa segurança de certa forma me inspira a criar, a ter confiança no que estou fazendo. 

                             Identifiquei também na obra de Jung a possibilidade de encontrar nos mitos o sentido intrínseco na vida, a vida não se constitui meramente das coisas que são visíveis aos olhos, as coisas fazem parte do nosso dia-a-dia burocrático, mas na crença que a fantasia fala de um aspecto heroico da humanidade, que pede para ele ir além de sua própria natureza. Então crer no sentido intrínseco das coisas sim é de grande valia. Enxergar o mundo negando o em si das coisas, por outro lado, permite o contato com as coisas sem preconceitos, uma vida dedicada aos sentidos e não aos conceitos. Uma vida dedicada aos conceitos nos encerra em preconceitos, nos frustra pelo mundo não ser aquilo que projetamos e escancara nossa incapacidade de desvendar o segredo da realidade. O mundo então não está aí para ser interpretado, mas para ser vivido.

                            Aparentemente esse conflito ainda está presente em mim, nas escolhas de leitura, também na minha leitura de vida. Mas permaneço ainda lendo, refletindo, deixando que essa reflexão amadureça e traga frutos bons para o que trabalho e para minha vida. É um processo de longo-médio prazo, que dura tempo para chegar a um compreensão mais satisfatória de tudo isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

       Percebo que as coisas estão mudando. Sinto um certo receio, não sei para onde isso vai. Percebo que pequenas mudanças estão acontecen...