Essa foi a primeira imagem que fiz da série de três que fiz esse mês , O Deserto (07/21). Me lembro que fiz num domingo, estava sozinho em casa, passei o fim-de-semana sozinho. Era sensação de grande desolação, solidão, não sabia ao certo o que fazer naquele dia. Escolhi desenhar, estava me orientando para fazer uma imagem mais figurativa, porém desejava fazer algo livre, sem restrições. A imagem surgiu com bastante facilidade, houve alguns momentos em que abri mão do controle para assumir novos riscos As duas figuras parecem estar enamoradas de alguma maneira, porém são de naturezas opostas, durante o desenho era como se a parte azul nascesse da parte roxa. Me chama atenção as raízes vermelhas da figura roxa, e em cima como se fosse uma explosão de cores quentes. Essa imagem me remete muito a pessoa que estava me relacionando no tempo, por coincidência brigaríamos mais tarde. O roxo ao meu ver aqui parece me remeter muito a sensualidade (até o formato da figura me faz pensar isso), nas raízes há um comportamento sólido, cravado na terra. Então aparece duas figuras a partir da roxa, primeiro apareceu a parte azul e do outro lado as cores quentes.
A figura azul nessa primeira vez me remeteu a espiritualidade, primeira vez que uma cor fria aparece nesse momento, era como se fosse uma energia de pureza e paz. De outro lado uma explosão, com as mesmas cores que usei na série anterior. Houve um rompimento, a temática da raiva está presente, porém aqui existe um novo elemento, distinto. Para mim o que deu mais profundidade a imagem foi o fundo, o deserto. Agora chego a compreensão que o deserto está relacionado justamente com a solidão, ao abandono, cada vez mais que se aprofunda nele mais as cores ficam arenosas, escuras. Como se fosse o que se espera do futuro, um grande deserto sem fim
Agora sigo para o próximo da série, O Mar (16/07), essa imagem parece de fato que é um seguimento da anterior. Aqui o azul predomina, para mim facilmente fui levado a escolher um tema quase que monocromático. Sinto que os dias depois da última imagem passaram a ser de melancolia, bem distinto dos sentimentos de raiva, euforia e tristeza explosiva anterior. Agora é como se houvesse uma contemplação de um ambiente melancólico, com pouca vida, lento, com pouco dinamismo. É a fase da aceitação, a fase do luto. A primeira imagem foi do círculo, como um ponto de partida, um centro de energia, dando um pouco de movimento a imagem. Olhando melhor agora, parece ser uma imagem aquática, como estivesse no fundo do mar, num lugar calmo, sem perturbações. A figura principal me lembra um pouco um peixe. No fundo há buracos vazios, introduzindo ideia de vazio, sem a necessidade de ocupar novos elementos na imagem, agora me remete a ideia de bolhas. Sinto agora que há vida sim nessa imagem, só está esperando o momento ideal para se desenvolver.
Agora chegamos A Caverna (23/07). Não existe quase nenhuma complexidade nessa imagem, tinha a vontade de fazer algo mais elaborado mas senti que não era o caso, deveria ser o mais direto possível. Quando terminei a imagem ficou claro que era uma imagem de uma caverna, simbolizando o que está sufocado, que quer sair mas não sabe como. De novo o elemento de cores quentes, porém quase soterrado pelas cores mais escuras. Não há aqui uma desordem destrutiva, existe uma certa construção ordenada, porém conflituosa, tensa. Dá uma sensação de mistério, de algo primitivo, sai um pouco da melancolia, para um raiva contida, implosiva. Um desconforto constante, um peso de diversas camadas, internas ou externas, que não permitem que a clareza chegue a superfície, que não permitem a livre expressão e espontaneidade, que não permitem uma energia de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário