quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Arquétipo da Criança - Relato

 

                                Agora dou prosseguimento ao último post. Agora sob a influência do Arquétipo da Criança venho estudando sobre o tema e chegando a importantes insights. Tentarei mesclar entre a leitura e minha experiência desse momento. 

                          Os primeiro momentos onde percebi que tinha mudado o focado da Mãe para a Criança, percebi algo muito diferente. Tudo ficou mais claro, a sensação de estar mais tranquilo comigo e com o mundo, algo novo apareceu. Logo percebi que a influência do inconsciente deixou de se tornar tão opressivo, entendi logo que a Criança seria a representação da liberdade necessária para esse momento. Enquanto a figura materna muitas vezes veio até mim como uma figura castradora, me limitando a influência dela. A criança apareceu como uma figura que me libertava dessas amarras, eu podia então vivenciar as coisas o medo das represálias do destino, agora estava entendido que nada é por acaso e que estava consciente dos acontecimentos.

                           O arquétipo da criança representa então essa união de opostos, a superação dos conflitos entre os opostos. Estava claramente nesse dilema, acredito que sempre estive e não entendia a profundidade disso. Antes mesmo de me confrontar com o Arquétipo Materno, estava em conflito com as partes extrovertidas e introvertidas de minha personalidade. Agora a Criança permite a união desses opostos em uma só unidade, a compreensão de mim mesmo como uma totalidade. A criança aparece então como uma possibilidade até então não compreendida pela consciência, é justamente o terceiro elemento resultado do encontro dos opostos.

                                Portanto, é o nascimento do novo, de novas possibilidades. Uma nova realidade se apresentou, agora não há mais dois, mas a convivência entre a unidade e o múltiplo. Porém essa potência que é a criança trás muitos perigos que ameaçam sua integridade. Porém, ela se impõe, pois ela vem do útero da natureza, ela é o chamado da natureza para que o sujeito possa ser si-mesmo:

                                  "Ela representa o mais forte e inelutável impulso do ser, isto é, o impulso de realizar-se a si mesmo. É uma impossibilidade de ser-de-outra-forma, equipada com todas as forças instintivas naturais ao passo que a consciência sempre emaranha em uma suposta possibilidade de ser-de-outra-forma. O impulso e a compulsão da autorrealização é um lei da natureza e, por isso, tem uma força incrível, mesmo que seja efeito insignificante e improvável" - (JUNG, p.172)     

                              Porém com a superação da dependência do símbolo materno, com isso há o abandono. A primeira sensação foi justamente essa, não havia mais o amparo esperado. Agora é preciso que ande sem a perspectiva de um guia, agora é necessário a busca por uma separação da fonte, rumo a autonomia. Agora é o momento da experimentação de uma nova fase, onde teoricamente não há restrições. O sentimento é de leveza, porém há o sentimento sim de abandono, tanto no âmbito psíquico, quanto no âmbito material.

                                Encaro minha própria realidade, minha solidão. Onde não há possibilidade de proteção, só assim para me tornar uma unidade comigo mesmo. Me sinto de fato um todo. Percebo a necessidade de respeitar minhas limitações, minha história, minha personalidade. Porém, mais uma vez os perigos estão sempre aí, ameaçando essa nova resolução. Ainda me percebo incrédulo em relação a mim mesmo, porém sou forçado a retornar a meu próprio caminho. Pensar meus próprios pensamentos, sentir meus próprios sentimentos, sem a dependência de outrem. Sinto uma estranha combinação de sensações, que às vezes não parecem muito bem definidas, elas se juntam em uma única mistura confusa. 

                                 A criança representa tanto uma volta a origem do si-mesmo, uma volta ao passado quando perdemos nossas raízes, quanto aponta para o futuro, um potencial futuro até então não compreendido. Ao meu ver é o retorno a uma realidade de inocência, onde se é o que se é puramente, sem a intromissão do mundo externo, mas também a possibilidade da superação dos limites presentes, possibilitando uma compreensão melhor de si, mais lúcida. 

                              Lendo o livro da Gestalt-Terapia trouxe uma importante reflexão sobre esse momento. Trazendo o conceito de "desprendimento criativo", onde o sujeito substitui a ideia de segurança para a ideia de fé. A total confiança em si e nos movimento naturais que nos acompanha, não temer o futuro, as incertezas, mas confiar no que se sucederá, entendendo que tudo se organiza naturalmente sem nossa interferência. Percebo com essas vivências tudo tem seu processo, todos acontecimentos que vem se apresentando diante de mim são ajudas para o meu desenvolvimento atual, então só depende de mim me alinhar a sabedoria universal.

 

 

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