quinta-feira, 7 de abril de 2022

Estádia em Aldeia - Imersão do Mutuar

        Esse fim de semana passada fiquei dois dias e meio em Aldeia, junto com o pessoal do Mutuar. Não sabia ao certo o que esperar disso, havia um misto de várias percepções, expectativas e receios. Não me sentia muito feliz nos dias que antecederam, não sentia que poderia ser algo bom. Antes disso tirei duas cartas para saber como vivenciar esse momento:

        Jogo de prós e contras:

    Encoraja a: (Ás de Copas) - Aproveitar uma oportunidade para encontrar uma felicidade enorme.

    Alerta sobre: (2 de Paus) - Valentia desconsiderada, ações destrutivas, demonstrações vazias de poder.

    Então já pensei como teria que lidar com esse momento. Chegamos lá na sexta a noite. Havia uma certa ansiedade para começar a beber e relaxar um pouco. Eu estava me programando para fumar mais tarde, porém logo pensei que aquele momento em que ninguém chegado ainda como sendo o ideal para fumar sem ter ninguém por perto para me julgar, mas segurei essa vontade. O lugar era muito espaçoso e aconhegante. Comecei a beber as minhas cervejas. Logo chegaram mais pessoas. O coordenador do curso, Felipe, tinha trazido um equipamento de som e violão, iria ter roda de violão pelo visto.

    Logo no começo senti a tensão de não conseguir me incluir nas conversas. Sentia uma tensão. Essa tensão acredito que por parte veio do fato de já ter bebido duas cervejas e sentido os efeitos do álcool e também o que as cartas me pedido fazer. Havia um grande peso em minha consciência para não entrar em conflito em relação as pessoas alí.

     O primeiro insight que tive foi o fato de estar de fato experimentando algo real ali, para além das abstrações teóricas que faço quando estou no ambiente privado. Lá sentia que a gestalt estava sendo vivenciada de forma pura. Eu expressei essa opinião na roda de conversa. Nisso outros assuntos vieram a tona, as frustrações diante das instituições de ensino foi um dos temas, que me deixou um pouco incomodado. Esse incomodo foi crescendo aos poucos, se juntando a outras impressões. Quando começaram a tocar eu não me sentia parte daquilo, sentia ansioso para tocar, mas ao mesmo tempo sabia que ninguém ia se animar com que eu tocaria.

     Houve um momento de profunda tensão em que não aguentei mais e me ausentei do grupo para fumar. Fiquei um bom tempo sentado ao lado da piscina para tentar me acalmar um pouco. Quando voltei um dos alunos me ofereceu maconha, eu aceitei. Fui pegar o cachimbo para fumar e foi a maior alegria. Dei umas quatro tragadas, aquilo conseguiu resolver bem. Voltei para o grupo, só assim para me sentir mais a vontade. Deixei fluir. As coisas iam acontecendo e permitia que acontecesse. Eu não estar participando não era mais o problema. Meu julgamento foi interrompido. Até o momento que decidi pegar o violão. Me senti totalmente entregue, sinto que minha sensibilidade fica aflorada, consigo me perceber melhor, minha voz, o que estou tocando, etc. Só o entorno que não parecia estar gostando, mas daquele jeito não parecia que me importaria tanto.

   Foi uma experiência única, poder expressar através desse estado algo que não consigo expressar comumente. Estava sendo aquilo que sou quando estou sozinho. Não era mais um ser constrangido pelas pessoas, eu quebrei várias limitações naquele momento, e ainda não me senti com vergonha em relação a isso como senti no Natal. Porém esse efeito durou muito tempo. Não conseguia dormir. estava muito agitado. Ainda saí da cama para jogar sinuca, fui terrível.

    No sábado houveram outras coisas. Não acordei na hora para a programação da manhã. Houve uma espécie de oficina coordenado por Pablo de Teatro do Oprimido. Não quis ir. Não estava com cabeça para aquilo e ainda queria aproveitar um pouco desse tempo para tocar um pouco de violão. O sentimento de censura ainda estava ali, não conseguia me concentrar em tocar sem pensar no que os outros poderiam estar pensando. Depois decidi participar do grupo. Era um segundo momento em que as pessoas tinham que achar objetos encontrados no chão para colocar no centro do grupo. Foi um momento de introversão. Estava seguindo com o fluxo de novo, algo novo estava acontecendo e não conseguia entender direito o que era.

    Quando essa parte acabou faltava uma pessoa do grupo, ela chegou com um objeto e quando colocou em cima dos outros objetos começou a chorar. Foi um choro que me fez sentir um certo conforto, como se tivesse mandando a mensagem do sentido daquele encontro, de fato não era um encontro simplesmente de celebração, mas um encontro de contato com os afetos. Tentei sustentar esse momento, não foi muito fácil, mas não tinha outra escolha. Ela contou que estava acontecendo com ela e foi muito maior do que eu imaginava. Disso que ela falou abriu um espaço para outras pessoas falarem assuntos parecidos. Aquilo foi uma catarse muito poderosa. Foi um misto de algo extremamente denso com um sensação de conforto, como se fosse realmente necessário aquele momento.

       Durante o período do almoço pude colocar minhas músicas na caixinha de som, foi um momento que me senti com mais prazer, porém muitas vezes um prazer meio culposo, de achar que estava enfadando as pessoas com minha música. Depois que as pessoas foram embora decidi entrar na piscina e ainda botar algum música para ouvir. Foi um momento um pouco estranho também, havia de novo uma sensação de estar dividido. Havia aquela ideia em minha mente do que eu queria fazer - ficar na piscina levemente chapado e ouvindo a minha música, ou estar conversando com o grupinho que estava sentado no banco um pouco mais ao lado (Fernanda, Pablo e Felipe). Acabei que escolhi ouvir música, porém não sentia que estava apreciando totalmente aquilo. 

       No final da tarde para a noite, Felipe decidi falar sobre sua experiência com o Caminho de Santiago. Era um slide com fotos da viagem. Foi uma experiência muito boa, senti que estava mais entregue e despreocupado. Talvez foi o momento que estava mais tranquilo e integrado ao grupo. Depois disso começou a chover fortemente. Um grupo decidiu ir jogar sinuca e outro ficou no terraço conversando. Fiz minha quesadilla e fui com o pessoal da sinuca.

         Foi um momento que eu comecei a beber minhas cervejas especiais (Indica e Ekaut) e fumar mais alguns cigarros. Nesse momento de novo veio o elemento julgador dizendo que eu não conseguia jogar sinuca, etc. Me sentia um pouco escanteado por ninguém ter falado praticamente comigo. Houve até um momento depois em que eu entrei no jogo. Mas logo quando acabou desisti de continuar jogando. Depois disso voltei para o meu cigarro e minha cerveja. Esse foi um momento muito crítico para mim, a sensação que não conseguia nem estar em contato com as pessoas nem fora. Meu refúgio era o cigarro, a única coisa que me dava contentamento e conforto.

       Depois disso tudo fomos dormir. Agora consegui dormir melhor. No outro dia, na manhã de domingo tivemos uma café da manhã, e um das alunas estava falando sobre um café que ela vendia. Aproveitei para experimentar e estava também bebendo uma xicara de café. Tinha a crença de que agora o café não me afetaria tanto. Pois bem, depois disso fizemos uma roda de conversa para fazer um síntese desse momento que tivemos. Falei um pouco de minhas impressão fazendo o esforço para não falar nada que fosse pesado. Quando estava finalizando, Angélica e Felipe deram um feedback sobre mim, que me alegrou bastante.

         Voltando para a casa eu tive muitos insights sobre a vida (boa parte estimulado pelo café). Cheguei em casa por voltar das 15:00, não quis almoçar, sentia que precisa deixar as coisas acontecerem naturalmente. Fiquei o dia praticamente refletindo, o pensamento estava muito acelerado. Tentei extravasar com música. Meditei. Fiz alguns exercícios de Bioenergética. Mas nada fazia com que a energia baixasse. Foi um dia em que estava muito satisfeito por chegar tantas conclusões, mas havia um momento que precisava me acalmar e voltar a vida normal, não era possível. Há noite chegaram meus pais e aproveitei para conversar com minha mãe. Ficamos mais ou menos 2 horas conversando, foi uma conversa bastante produtiva. 

            Finalizarei aqui o meu relato dessa experiência. Escrevo essa última parte quase duas semanas depois do acontecido. Agora voltei ao meu normal, de novo com várias preocupações, mas acredito que superei alguns limites que até então estavam me atrapalhando. Tentarei voltar as minhas reflexões costumeiras em outro post.

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       Percebo que as coisas estão mudando. Sinto um certo receio, não sei para onde isso vai. Percebo que pequenas mudanças estão acontecen...