Fui a Gravatá esse fim de semana. Foi uma experiência confusa. Houve uma grande mistura de sensações que não me permitem ter uma perspectiva global sobre tudo isso. Para mim foi bem difícil conseguir entender tudo que estava acontecendo enquanto estava acontecendo.
Tenho percebido um certo padrão para certas coisas que acabam se repetindo toda vez que faço essas viagens. Percebi o como a experiência da própria viagem me fez ter que mudar meu comportamento, onde precisava me adaptar diante das coisas que iam acontecendo. De fato posso compreender que certas coisas se repetem, mas há uma incompreensão para tentar precisar tudo isso. Bem, de forma geral, eu entendo que foi uma grande aprendizagem.
Antes da viagem houve um certo desprendimento em relação a ela. Acho que existe um paradoxo aqui. De fato existiu ansiedade e tensão. Houve momentos de raiva, de sensação de abandono. Essas foram corrigidas até ser possível que a viagem fosse concretizada. Porém, eu só percebi depois o que havia por debaixo do tapete.
O primeiro dia houve um certa dose de ansiedade. Tive aquela sensação de ser “abraçado” pela casa quando cheguei. Porém, aos pouco essa sensação foi se dissolvendo. Percebi que estava tenso e ansioso, mas tentava ao máximo administrar isso. Foi bem incomodo. Porém, soube lidar um pouco com isso.
Sabia que o primeiro dia geralmente seria assim e que provavelmente aquela sensação ia passar. Talvez o mote de tudo isso foi o fato de perder o controle. Quase que automaticamente eu crio um ideal de como a viagem deveria ser e percebo que constantemente me frustro, porque as coisas não obedecem esse ideal. Agora, sei como lidar com isso de uma maneira mais leve. Entretanto, entendo que isso sempre me condicionará a ter certas atitudes e percepções.
O que eu percebo agora, é que um evento como esse inclui outras pessoas, então seria óbvio que eu sentisse uma descentralização de minhas propostas para incluir outras. Não sei como julgar isso ao certo. Muitas pessoas teriam um olhar de reprovação diante dessas coisas, outros acreditariam que eu estou insistindo em algo improdutivo. Bem, tento enxergar o caminho do meio diante disso tudo.
Consegui produzir algumas coisas. Li bastante, desenhei, escrevi poemas e notas. Mas de maneira geral consegui seguir o fluxo das coisas que não fazem parte do meu script. Talvez essa foi a coisas mais desafiadora de todas.
No dia do sábado, veio Marcos e um amigo dele. Foi outro momento que demandou um pouco de mim. De certa forma a energia ficou mais dinâmica e leve. Marcos e esse amigo são pessoas com mais energia, não são tão “cabeça”, mas também não são rasos.
Houveram outras coisas que me incomodaram nesse momento. Ainda sentia que queria ter controle sobre algo. Um pouco depois disso tudo interpretei isso como se tivesse sugando muita energia do ambiente, e isso tem me drenado. Me parece plausível essa perspectiva.
Era claro que estava lidando com algo novo. Minha concepção de privacidade, de focar nas coisas que eu gosto e que me faziam estar mais perto dos meus ideais foi deixado de lado por um tempo. Não acredito que seja de forma total, mas de fato houve essa “descentralização”.
Houve um momento em que jogamos Master. Acredito que fluiu bem, acho que nos divertimos muito. Mas sempre há uma ambiguidade nesses momentos. Acho que só nesse momento afloraram muitas coisas que tinha percebido na última viagem. A sensação é como se tivesse balançado um tapete e a poeira tinha se espalhado pela sala inteira. Eu consegui claramentep perceber partes que eu julgo muito negativas em relação a Daniel, que não vejo como uma atitude de maldade em relação a ele, mas um certo desdém imaturo em relação aos outros, e uma necessidade de se sentir superior. Eu já percebi isso em outras pessoas, principalmente em relações mais primárias de minha vida. Foi uma experiência muito estranha, porque por um momento saí do lugar de vítima. Soube me defender, em estar consciente do movimento das pessoas e como responder a isso.
Não almejei o conflito, mas não podia surportar certas coisas. Perceber uma atitude de total desleixo em relação aos outros me incomoda bastante. Principalmente, defender certas posições e discursos que são desnecessários, só para mostrar sua capacidade argumentativa ou superioridade de opinião. Tentei me afastar disso. Acredito que ele percebeu meu movimento e vários momentos ele demonstrou que se importou.
Isso e outras coisas me fizeram refletir. Será que deveria abrir mão de algo? Será que valia a pena investir no mundo? Nas pessoas? Me sentia exausto, irritado, sentia um vazio enorme, enquanto os outros aparentemente não sentiam nada. Não queria me isolar, mas parecia um peso muito grande a ser carregado. Por um lado queria preservar o meu mundo, minha identidade, por outro, queria aprender a ser mais leve, a não ir tão profundamente no que eu estava sentindo. Havia momentos que eu queria privacidade pra poder processar o que estava sentindo, e vários momentos eu sentia que essa privacidade foi violada. Porém, tentei respeitar o tempo das coisas, tentei aceitar o momento presente, tentei estar ali, simplesmente.
Prológo
Consegui um número grande de livros na sexta antes da viagem. Ajudei trazer alguns materiais do consultório, daí ela comentou que deixaram alguns livros para doação, encontrei muitos que tenho me interessado, como livros de Fromm, Horney e May. Encontrei uma bio de Freud que desde da época da faculdade era comentada por um professor.