quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

  Ao ler Fédon me deparo com um conceito bastante platônico. Sócrates aqui defende a ideia de que o filósofo por ser um amante da sabedoria deseja a morte como forma da libertação da alma do corpo. Segundo ele, o corpo seria algo que impede a compreensão plena da verdade. Entende que nossos sentidos nos enganam e que aquele que busca a verdade deve buscar cada vez mais um pensamento livre do mundo sensorial.

  Isso de fato contraria a filosofia fenomenológica, que vê no mundo sensorial a forma em que de fato percebemos o mundo. Platão certamente caí em um pensamento idealista ao pensar que existe a possibilidade compreender as coisas em-si a partir do momento em que nos retiramos da realidade, para alcançarmos o pensamento puro.

  Essa compreensão me lembra muito a carta que tirei para esse ano, (IX) O Eremita. Toca muito nas reflexões que venho tendo sobre a vida solitária e a contemplação. Tive que me afastar do mundo para chegar a uma compreensão muito minha da realidade, tive que me "purificar" para chegar a uma visão mais nítida sobre mim e sobre minha vida.

   Em Mathematic and occultism de Rudolf Steiner, chega na mesma conclusão. Aqui ele trás a influência da matemática como forma de chegar a uma compreensão pura do mundo espiritual, para além do mundo sensorial. Venho praticando suas meditações, agora me utilizo de frases que ele recomenda para chegar a um estado meditativo. Percebo que existe uma certa paz quando faço essas meditações, compreendo que essas frases contém algo de oculto que nos leva a uma compreensão mais aprofundada de nosso ser.

   Penso, que de alguma forma a espiritualidade sempre foi uma questão importante em minha vida. Hoje, me deparo com esses pensamentos e me pergunto até onde eu me alinho nessa perspectiva. Não consigo considerar a ideia de que devemos dispensar a atenção ao nosso corpo e só dar vazão ao espírito. Também não consigo aceitar completamente uma visão puramente materialista do mundo. Esse final de ano me mostrou inclusive essa impossibilidade, de apenas abraçar um lado e rejeitar o outro.

  Volto ao dualismo junguiano. Sempre em conflito com duas perspectivas que parecem totalmente opostas. Tento sustentar esse estado de conflito. Muitas vezes me sinto atordoado com isso, mas acredito que deva ser necessário manter minha paciência e seguir refletindo e lendo mais.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Anarquismo e espiritualidade

 Nota: Aqui vou apresentar alguns tópicos que tirei de um post sobre o tema acima citado. São tópicos que apontam princípios que busco aplicar em minha vida e que soluciona alguns conflitos que venho tendo. Pretendo colocar mais coisas desse tipo aqui no blog, já que era minha intenção original colocar assuntos diversos no blog. Espero que esse post me inspire para futuras postagens desse tipo.

1. Explore suas próprias crenças e valores: Reflita sobre suas convicções políticas, sociais e espirituais, questionando e examinando-as de forma crítica.

 2. Busque a autonomia: Valorize sua capacidade de pensar, agir e tomar decisões independentes, tanto no âmbito político quanto no espiritual.


3. Desenvolva sua consciência política: Esteja ciente das estruturas de poder e das hierarquias opressivas presentes na sociedade, buscando desafiá-las e trabalhar pela igualdade e justiça.


4. Pratique a autodeterminação: Assuma a responsabilidade por sua própria vida, tomando decisões informadas e agindo de acordo com seus valores.


5. Cultive a empatia e a solidariedade: Reconheça a interconexão entre todos os seres humanos e busque agir com compaixão e apoio mútuo.


6. Questionar as autoridades: Desafie as instituições e figuras de autoridade, examinando criticamente seus ensinamentos e comportamentos.


7. Promova a descentralização do poder: Busque formas de organização social que valorizem a participação igualitária e a tomada de decisões coletivas.


8. Pratique a não-violência: Busque resolver conflitos de forma pacífica e promova a resolução de problemas por meio do diálogo e da compreensão mútua.


9. Explore diferentes tradições espirituais: Estude e aprenda sobre diferentes caminhos espirituais, encontrando elementos que ressoem com seus valores anarquistas.


10. Cultive a espiritualidade individual: Desenvolva práticas espirituais que sejam significativas para você, como meditação, contemplação, rituais pessoais ou conexão com a natureza.


11. Busque a conexão com a comunidade: Envolva-se em grupos e movimentos que compartilhem seus valores anarquistas e espirituais, promovendo a colaboração e a troca de ideias.


12. Desenvolva uma ética de cuidado: Valorize a importância de cuidar de si mesmo, dos outros e do mundo ao seu redor, buscando a harmonia e o equilíbrio.


13. Pratique o desapego material: Valorize mais os relacionamentos e experiências do que a acumulação de bens materiais, buscando uma vida simples e consciente.


14. Seja crítico em relação às hierarquias religiosas: Questionar a autoridade religiosa e buscar uma relação pessoal com o sagrado, evitando a submissão cega a líderes religiosos.


15. Equilibre ação e contemplação: Encontre um equilíbrio entre a ação política e social e a busca interior pela espiritualidade, permitindo que ambos se fortaleçam mutuamente.


16. Pratique a gratidão: Reconheça as bênçãos e as coisas positivas em sua vida, cultivando um sentimento de gratidão e apreço pelo presente.


17. Promova a diversidade e a inclusão: Valorize e respeite a diversidade de crenças, culturas e identidades.


18. Busque formas de resistência criativa: Explore meios de expressão artística e cultural para promover a conscientização, a transformação social e a busca espiritual.


19. Aprenda com a história do anarquismo e movimentos espirituais: Estude as experiências passadas de anarquistas e tradições espirituais para obter insights e inspiração para a sua própria jornada.


20. Cultive a sabedoria e o conhecimento: Busque constantemente aprender e expandir seus horizontes, explorando diferentes filosofias, religiões e teorias políticas.


21. Esteja aberto ao diálogo e ao debate: Esteja disposto a ouvir diferentes perspectivas e opiniões, mesmo aquelas com as quais você possa discordar, e busque o diálogo construtivo para promover o entendimento mútuo.


22. Valorize a sustentabilidade e o cuidado com o meio ambiente: Reconheça a importância de viver de forma sustentável e respeitosa com a natureza, buscando formas de preservação e proteção do meio ambiente.


23. Pratique a autenticidade: Honre sua verdade interior e viva de acordo com seus princípios e valores, buscando a congruência entre suas convicções políticas e espirituais.


24. Seja paciente e resiliente: Reconheça que a busca pelo significado da vida, tanto no âmbito político quanto espiritual, é uma jornada contínua e que requer tempo, esforço e perseverança.


25. Nunca pare de questionar: Mantenha-se curioso e sempre busque aprender e evoluir, questionando tanto suas próprias crenças e práticas quanto as estruturas sociais e espirituais estabelecidas.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Viagem ao Criatório

        Para o fim de ano fiz uma viagem a um local chamado criatório em Gravatá. Estava bastante descrente em relação a essa viagem. Minhas experiências anteriores com viagens não tiveram experiências muito boas. Tinha dúvidas se essa viagem iria ser de fato valorosa para mim. Havia a possibilidade de viajar com amigos, mas acabei negando minha ida. Antes da viagem me perguntei porque fiz isso, se seria melhor estar com meus amigos.

      Minha mãe tinha reservado esse lugar, que anteriormente ela já tinha ido. Não sabia muito sobre esse lugar, imaginei que não haveria muita coisa para fazer, apenas ler. Quando cheguei lá, me surpreendi. Era um lugar muito calmo, com uma energia muito boa. A casa tinha muito espaço. Haviam várias possibilidades de utilização desse lugar. Logo quando cheguei senti uma energia diferente e senti que iria ser diferente a minha experiência lá.

     Acredito que experiência como um todo me fez acreditar que no final das conta tudo tem um propósito. Passei por muitas coisas que me fizeram duvidar de mim, de minha capacidade, das coisas que me constituem. Estava ficando cada vez mais descrente em relação a mim mesmo e minha vida. Essa experiência me levou a um novo patamar. 

      Comparado a outra casa, sentia uma energia muito mais leve e livre. Na casa que sempre vou, venho sentindo um certo peso, que sempre me estranhava, porque muitas vezes via aquela casa como um abrigo. Essa viagem pôs uma questão muito sensível a mim, se as coisas de fato tem um sentido intrínseco.

     Um dos pontos que logo apareceram foi com a leitura do Café Existencialista, que fala basicamente do desenvolvimento do pensamento existencialista. Logo fala sobre o contraste do pensamento anterior que tenta enxergar um sentido intrínseco nas coisas e a visão do existencialismo de que não haveria de fato esse sentido, que na verdade o sentido é nós que damos. A partir daí posso me empoderar das minhas ações sendo responsável por elas, sendo capaz de me vez refletido nas minhas ações, sem ter um juízo moral ou valorativo diante daquilo que escolho fazer.

    Essa perspectiva, que ao meu ver, poderia ser libertadora, pois não tenho o peso de tentar descobrir o sentido das coisas, também tem o outro lado de sentir a angústia de não haver um caminho claro para onde seguir. O fato de não haver nada onde me apoiar é um sentimento desamparador. Não sabia também se eu estava completamente convicto que poderia abraçar apenas uma única perspectiva, mas também era muito doloroso ter que lidar com o conflito de coisas tão contraditórias.

   Essa sensação se acentuou no domingo (dia do ano-novo). Minha mãe tinha sugerido fazer um cartão de Soulcollage. Todos (praticamente) pararam para confeccionar um cartão. O resultado para mim foi bastante esclarecedor. A primeira imagem, a de fundo, foi uma arvóre, que ocupava todo cartão praticamente, depois surgira duas figuras, uma imagem de um santo católico, vestido com uma armadura e uma deusa pagã, que parecia ser Vênus.

       Essas duas figuras pareciam conversar entre si. Uma figura feminina, com uma energia mais sútil, passiva, calma, e outra energia masculina, como que querendo se preparar para algo, para agir. Vi nesse cartão esses opostos que habitam em mim, e como devo fazer com que eles se complementam, mesmo que pareçam completamente antagonistas. Existe aí uma figura feminina nua, branca, leve, e outra figura masculina, totalmente vestida, que parece estar protegida. Talvez um lado que represente os instintos, o livre pulsar da vida, e o outro, uma força moralizante, que busca controle sobre as coisas. Aí, me parece que preciso equilibrar esses diferentes pontos de vista.

     Depois tiramos cartas de tarot, eu fui o último a tirar. E para minha surpresa, aparece a carta do Eremita. Era um aspecto que venho refletindo a um tempo, uma volta a mim mesmo, encontrar na solidão o sentido para minha vida. Vinha pensando muito também em me isolar mais, para que eu possa refazer meu caminho. Talvez aí consiga encontrar um sentido maior para minha vida e me sentir mais a vontade comigo mesmo.

      De fato, há ainda uma sensação de confusão. Mas de alguma forma há algo em que eu possa me firmar e continuar meu processo. Espero que as coisas fiquem mais claras durante o caminhar. Me lembro da carta do Carro, onde é no movimento em que as coisas ficam mais compreensíveis.

Reflexões sobre "Cuidando do Cuidador"

      Esse fim-de-semana houve um evento do meu curso chamado "Cuidando do Cuidador". Fiquei um pouco reticente sobre isso, eu ter...