Ao ler Fédon me deparo com um conceito bastante platônico. Sócrates aqui defende a ideia de que o filósofo por ser um amante da sabedoria deseja a morte como forma da libertação da alma do corpo. Segundo ele, o corpo seria algo que impede a compreensão plena da verdade. Entende que nossos sentidos nos enganam e que aquele que busca a verdade deve buscar cada vez mais um pensamento livre do mundo sensorial.
Isso de fato contraria a filosofia fenomenológica, que vê no mundo sensorial a forma em que de fato percebemos o mundo. Platão certamente caí em um pensamento idealista ao pensar que existe a possibilidade compreender as coisas em-si a partir do momento em que nos retiramos da realidade, para alcançarmos o pensamento puro.
Essa compreensão me lembra muito a carta que tirei para esse ano, (IX) O Eremita. Toca muito nas reflexões que venho tendo sobre a vida solitária e a contemplação. Tive que me afastar do mundo para chegar a uma compreensão muito minha da realidade, tive que me "purificar" para chegar a uma visão mais nítida sobre mim e sobre minha vida.
Em Mathematic and occultism de Rudolf Steiner, chega na mesma conclusão. Aqui ele trás a influência da matemática como forma de chegar a uma compreensão pura do mundo espiritual, para além do mundo sensorial. Venho praticando suas meditações, agora me utilizo de frases que ele recomenda para chegar a um estado meditativo. Percebo que existe uma certa paz quando faço essas meditações, compreendo que essas frases contém algo de oculto que nos leva a uma compreensão mais aprofundada de nosso ser.
Penso, que de alguma forma a espiritualidade sempre foi uma questão importante em minha vida. Hoje, me deparo com esses pensamentos e me pergunto até onde eu me alinho nessa perspectiva. Não consigo considerar a ideia de que devemos dispensar a atenção ao nosso corpo e só dar vazão ao espírito. Também não consigo aceitar completamente uma visão puramente materialista do mundo. Esse final de ano me mostrou inclusive essa impossibilidade, de apenas abraçar um lado e rejeitar o outro.
Volto ao dualismo junguiano. Sempre em conflito com duas perspectivas que parecem totalmente opostas. Tento sustentar esse estado de conflito. Muitas vezes me sinto atordoado com isso, mas acredito que deva ser necessário manter minha paciência e seguir refletindo e lendo mais.