quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Carta ao adepto II

     Depois da primeira Carta, não houve uma resposta. Então decidi continuar com esse dialogo, porém com uma figura imaginária, não pretendo escrever as respostas, só as minhas reflexões como se estivesse endereçando a outra pessoa.

    

        Hoje de manhã me veio outro tipo de reflexão. Hoje é 7 de Setembro, dia da Independência. Independente de qualquer acontecimento político do dia de hoje, volto aos meu próprios pensamentos, a minha reflexão pessoal, sobre o que considero necessário para meu entendimento do mundo e de mim mesmo.

           Diferentemente da última Carta, não quero buscar na psicologia as respostas mas na filosofia, na compreensão da ação e pensamento do homem. Nisso, o nome de Schopenhauer vem à tona. Me pergunto o porquê de estar lendo Schopenhauer justamente nesse momento. Basicamente é um livro que não exigirá muito de mim, mas tenho a ambição de retirar algumas reflexões necessárias. 

             Logo de cara, vejo uma reflexão necessária a um contexto da Alemanha do séc.XIX, sei que hoje existem outras questões a se preocupar, porém acredito que o cerne do problema é o mesmo. Agora penso que um professor meu diria para tentar entender o contexto dessa reflexão. Sim, sinto que existe uma certa escassez de entendimento do pensamento alemão daquela época. Porém, rapidamente pude assimilar certas ideias essenciais.

             Existe um descontentamento diante do pensamento intelectual dessa época por parte do autor, e posso enxergar nitidamente essa mesma questão nos tempos atuais, porém com outras cores. Me identifico de certa forma com Schopenhauer, da mesma maneira com Jung e Nietzsche, agora mais recentemente com Goodman. Porém, essa aproximação quase que instantânea com esses outsiders pode ser facilmente minada pela brutalidade das instituições. Eu claramente nesses dias declarei para mim mesmo minha independência diante do pensamento político comum, de forma muito instintiva. Correndo o risco de soar egoísta e alienado, todavia para mim o sentimento  de não pertencimento é grande.

               Acredito que Schopenhauer critica essa adaptação forçada ao pensamento comum, que muitas vezes é pobre e vazio, incapaz de criar algo novo, algo de real importância. Em pouco tempo identifico nessa escrita um chamado para o pensamento independente, que não almeja cargos. É a busca mais sincera e honesta do sujeito rumo à verdade. Primeira vez que consegui encontrar uma legitimação do que eu sinto, abraçar a paixão por algo não pelo que esse algo pode me dar de lucro, mas pela descoberta.

                   Venho sentindo um vazio na mentalidade das pessoas, a nossa tendência à neurose, a nossa tendência à aceitação passiva das coisas, uma alienação de nós mesmos em prol de um pensamento já instituído. Descobri hoje que o papel da Sociedade Fabiana justamente é essa potência, o seu legado foi a capacidade de pensar por si, descobrir a verdade por si só, não pela mente do outro. Será que estou sendo fanático pensando assim?

                     Minha intuição me diz que não posso me render facilmente, não posso também me preocupar demasiado na visão do outro sobre mim, se sou digno de admiração ou não. De novo a imagem do Eremita, do monge. Será que isso surge concretizado diante de mim na forma de Schopenhauer? Eu assimilo essa possibilidade. Agora ao meu ver existe um contraste, nesse momento específico. Os nomes que citei acima todos de certa forma foram produtos de uma época e de uma cultura. Uma figura que se destaca agora é justamente o do Goodman. Apesar de um rebelde, de uma ovelha desgarrada, é um produto de um período contemporâneo, uma figura pré-pós-moderna. Talvez existe aí um risco dos pecados da civilização ocidental do séc.XX, também talvez possa guardar algo de saudável. Quando vi o video sobre Nietzsche relacionando as três mente fundamentais (Rousseau, Goethe e Schopenhauer), me veio uma necessidade de voltar a um origem de pensamento, uma raiz que guarda uma vitalidade necessária, enquanto o pensamento contemporâneo pode ter essa falta de vitalidade. Para mim a Sociedade Fabiana servia para essas duas questões: um resgate de um espírito e também uma abertura para o novo, não se limitando a uma conservação de uma forma. 

            A leitura do Gestalt-Terapia de fato é a minha principal leitura, estou aprendendo bastante com ela, porém me preocupo em me relacionar somente com a mentalidade contemporânea.  De volta ao conflito com a personalidade extrovertida, pude perceber uma aceitação (mesmo que parcial) para o mundo externo, não uma aceitação como forma de adesão, mas um ajustamento criativo, o exercício da função intuitiva através da extroversão. Daí a possibilidade de contato, de participação no mundo, porém, justamente com isso o receio da massa, da participação no rebanho, na introjeção de preconceitos, a alienação de mim mesmo (que também conto com essa possibilidade em meu isolamento). 

                   Importante então contar com a descoberta, a digestão dos diversos pontos de vistas, não uma adesão a uma bandeira, me volto ao livre-pensamento. Não faço parte de um grupo, não tenho uma ideologia clara, não sei ao certo se preciso ter uma. Percebo no campo social essa dispersão, essa falta de coesão, mas também a necessidade de coesão através de valores externos me dá medo, não é o que almejo para mim nesse momento. Apenas observo os acontecimentos e crio a partir das minhas próprias referências.

 

 

 

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