Olá, estou muito animado por essa troca. Antes de tudo irei explicar
rapidamente o porquê do título. Venho escrevendo semanalmente sobre
diversas ideias e experiências pessoais, e tive a ideia de mandar emails
para pessoas conhecidas sobre leituras e reflexões que venho tendo.
Bem, acabou não acontecendo, então pensei em fazer essa mesma escrita só
que para uma pessoa inexistente, para sanar essa necessidade de colocar
essas ideias num dialogo imaginário. O adepto séria justamente essa
pessoa imaginária que iria me corresponder, agora adepto pode ser
qualquer pessoa que eu construiria esse dialogo via email.
Gostaria, então, de começar a partir de algumas coisas que venho me
deparando diante do assunto da psicologia, gostaria de incluí-lo nessa
reflexão. Isso envolve tanto reflexão que me deparo em minha própria
quanto nas minhas leituras cotidianas.
Essa reflexão se iniciou a partir de um conflito constante no dado
momento, que seria o conflito entre instâncias extrovertidas e
introvertidas presentes em minha vida. Duas partes contraditórias que me
trazem valores diferentes, perspectivas diferentes, etc. Acredito que a
experiência da pandemia me levou a isso. Há um claro contraste da minha
vivência na faculdade, que ao meu ver foi majoritariamente
extrovertida, com a minha existência anterior a faculdade, que foi
majoritariamente introvertida. Agora na pandemia me deparei com esses
dois mundos, um mundo novo que me obriga a voltar a convivência de mim
mesmo junto a aprendizagem que tive nos recentes anos.
Então, posso trazer dois pontos de vistas que me colocam nesse
problema. O ponto de vista da Gestalt-Terapia, teoria que só me dei
conta da existência na faculdade e Jung, interesse que antecedia a
faculdade. (Não irei falar os detalhes que me levaram a essas duas
teorias, a menção a elas por enquanto já é suficiente).
Pois bem, hoje venho entrando em conflito com aspectos da minha
personalidade que me trazem para a experiência presente do mundo
(Gestalt-Terapia) e outro aspecto que me leva a refletir sobre questões
profundas de minha vida, buscando dados em minha interioridade (Jung).
Essa contradição tem feito uma grande confusão em mim.
Com a leitura presente da Gestalt-Terapia, chego a reflexão da Teoria
do Self de Paul Goodman. Com isso o entendimento da neurose. Para a GT
neurose significa um enrijecimento na personalidade, onde o sujeito não
conseguiu solucionar um problema passado, assim sua necessidade não é
satisfeita, impossibilitando-o de assimilar o novo. Ou seja, o neurótico
é incapaz de experienciar o mundo, é um sujeito preso em sua
interioridade, distancia-se da realidade externa, criando uma
personalidade distinta. Não consegue assim se satisfazer por não haver
possibilidade de um dialogo amistoso com o ambiente. Ideia muito
semelhante presente na teoria reichiana.
Esse conceito de neurose qu vem me perseguindo ultimamente. Venho
sentindo uma grande nostalgia do passado e pouca tolerância ao presente.
A existência no atual momento vem sendo muito dolorosa, os aspectos
políticos e sanitários, as incertezas em relação ao futuro, a perda
daquilo que até então me estimulava, um estranho processo de
amadurecimento. Então existe também uma necessidade de busca de sentido,
buscar os porquês desse momento, o que nos leva aos acontecimentos
atuais, quais motivações internas para tudo.
Fiz uma viagem recente para Gravatá, e todas essas questões estavam
presentes. Faço o cálculo que vou a essa casa mais de 15 anos e penso o
que mudou. O que há de novo? Ou estou vivendo a mesma realidade de
sempre? sem nenhuma novidade, tudo já passou e não há nenhum estímulo
novo, nenhuma tendência, tudo foi desgastado.
Voltei para a casa com essa sensação, que tudo é uma repetição do
passado, só que agora sem vitalidade nenhuma. Também venho pensando
sobre a falta de uma identidade, de defender um ponto de vista, me
disciplinar dentro de uma ideologia ou credo. Mas todas tentativas
passadas e futuras foram infrutíferas. Agora só há o vácuo, a existência
constante sem nome, sem identidade. Um barco vazio.
Agora me deparei com um texto de Jung muito revelador que queria
compartilhar. Aqui Jung fala sobre a necessidade dos opostos, como nossa
natureza humana é essencialmente constituída através dos opostos. Me
lembro em seu Tipos psicológicos o fator do sacrifício como
função de compensação. Jung revela que as mudanças na vida nos trazem a
necessidade de defender novos valores, porém aí existe um perigo, o
sujeito acredita que aquilo que é novo é a pura verdade, assim julga
aquilo que antigo como errado, como ultrapassado. Ele diz que o sintoma
resultante disso é o enrijecimento, o dogmatismo. Porém o aceitação das
contradições nos leva a insegurança. Talvez justamente essa sensação de
estar presente dentro de si duas pessoas distintas. A incapacidade de
solucionar esse conflito nos leva justamente a regressão, a uma busca pelo passado. Porém, aquilo que funcionava no passado já não funciona mais no presente.
Gostaria de talvez deixar aí essa questão, provavelmente me depararei
com novas leituras e reflexões. Gostaria de continuar essa conversa,
você pode adicionar seus pensamentos e as coisas que vem refletindo.
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