quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Carta ao adepto I

 

      Olá, estou muito animado por essa troca. Antes de tudo irei explicar rapidamente o porquê do título. Venho escrevendo semanalmente sobre diversas ideias e experiências pessoais, e tive a ideia de mandar emails para pessoas conhecidas sobre leituras e reflexões que venho tendo. Bem, acabou não acontecendo, então pensei em fazer essa mesma escrita só que para uma pessoa inexistente, para sanar essa necessidade de colocar essas ideias num dialogo imaginário. O adepto séria justamente essa pessoa imaginária que iria me corresponder, agora adepto pode ser qualquer pessoa que eu construiria esse dialogo via email.
     
    Gostaria, então, de começar a partir de algumas coisas que venho me deparando diante do assunto da psicologia, gostaria de incluí-lo nessa reflexão. Isso envolve tanto reflexão que me deparo em minha própria quanto nas minhas leituras cotidianas.
    Essa reflexão se iniciou a partir de um conflito constante no dado momento, que seria o conflito entre instâncias extrovertidas e introvertidas presentes em minha vida. Duas partes contraditórias que me trazem valores diferentes, perspectivas diferentes, etc. Acredito que a experiência da pandemia me levou a isso. Há um claro contraste da minha vivência na faculdade, que ao meu ver foi majoritariamente extrovertida, com a minha existência anterior a faculdade, que foi majoritariamente introvertida. Agora na pandemia me deparei com esses dois mundos, um mundo novo que me obriga a voltar a convivência de mim mesmo junto a aprendizagem que tive nos recentes anos.
      Então, posso trazer dois pontos de vistas que me colocam nesse problema. O ponto de vista da Gestalt-Terapia, teoria que só me dei conta da existência na faculdade e Jung, interesse que antecedia a faculdade. (Não irei falar os detalhes que me levaram a essas duas teorias, a menção a elas por enquanto já é suficiente).
      Pois bem, hoje venho entrando em conflito com aspectos da minha personalidade que me trazem para a experiência presente do mundo (Gestalt-Terapia) e outro aspecto que me leva a refletir sobre questões profundas de minha vida, buscando dados em minha interioridade (Jung). Essa contradição tem feito uma grande confusão em mim.
       Com a leitura presente da Gestalt-Terapia, chego a reflexão da Teoria do Self de Paul Goodman. Com isso o entendimento da neurose. Para a GT neurose significa um enrijecimento na personalidade, onde o sujeito não conseguiu solucionar um problema passado, assim sua necessidade não é satisfeita, impossibilitando-o de assimilar o novo. Ou seja, o neurótico é incapaz de experienciar o mundo, é um sujeito preso em sua interioridade, distancia-se da realidade externa, criando uma personalidade distinta. Não consegue assim se satisfazer por não haver possibilidade de um dialogo amistoso com o ambiente. Ideia muito semelhante presente na teoria reichiana.
        Esse conceito de neurose qu vem me perseguindo ultimamente. Venho sentindo uma grande nostalgia do passado e pouca tolerância ao presente. A existência no atual momento vem sendo muito dolorosa, os aspectos políticos e sanitários, as incertezas em relação ao futuro, a perda daquilo que até então me estimulava, um estranho processo de amadurecimento. Então existe também uma necessidade de busca de sentido, buscar os porquês desse momento, o que nos leva aos acontecimentos atuais, quais motivações internas para tudo.
       Fiz uma viagem recente para Gravatá, e todas essas questões estavam presentes. Faço o cálculo que vou a essa casa mais de 15 anos e penso o que mudou. O que há de novo? Ou estou vivendo a mesma realidade de sempre? sem nenhuma novidade, tudo já passou e não há nenhum estímulo novo, nenhuma tendência, tudo foi desgastado.
        Voltei para a casa com essa sensação, que tudo é uma repetição do passado, só que agora sem vitalidade nenhuma. Também venho pensando sobre a falta de uma identidade, de defender um ponto de vista, me disciplinar dentro de uma ideologia ou credo. Mas todas  tentativas passadas e futuras foram infrutíferas. Agora só há o vácuo, a existência constante sem nome, sem identidade. Um barco vazio.
        Agora me deparei com um texto de Jung muito revelador que queria compartilhar. Aqui Jung fala sobre a necessidade dos opostos, como nossa natureza humana é essencialmente constituída através dos opostos. Me lembro em seu Tipos psicológicos o fator do sacrifício como função de compensação. Jung revela que as mudanças na vida nos trazem a necessidade de defender novos valores, porém aí existe um perigo, o sujeito acredita que aquilo que é novo é a pura verdade, assim julga aquilo que antigo como errado, como ultrapassado. Ele diz que o sintoma resultante disso é o enrijecimento, o dogmatismo. Porém o aceitação das contradições nos leva a insegurança. Talvez justamente essa sensação de estar presente dentro de si duas pessoas distintas. A incapacidade de solucionar esse conflito nos leva justamente a regressão, a uma busca pelo passado. Porém, aquilo que funcionava no passado já não funciona mais no presente.
        Gostaria de talvez deixar aí essa questão, provavelmente me depararei com novas leituras e reflexões. Gostaria de continuar essa conversa, você pode adicionar seus pensamentos e as coisas que vem refletindo.

Abraços fraternos

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