domingo, 26 de setembro de 2021

Carta ao Adepto V

                     Hoje de manhã borbulhou uma série de percepções sobre mim e minha realidade, transpus isso para o campo teórico, fiquei ansioso para poder escrever o que estava em minha mente. Basicamente sei que é uma questão que envolve uma diversidade de coisas e experiências, não posso utilizar uma única perspectiva.

                      Acordei bem cedo hoje, apesar da insônia terrível de ontem, não pude evitar, um episódio de turbulências, como sempre. Mas hoje foi fundamental acordar e sentir que nada havia, o nevoeiro se dispersou, então me coloquei a refletir. Mas agora percebo que não quis decifrar - no sentido de tentar de apenas racionalizar - o que aconteceu.  Percebo agora inclusive minha atitude reflexiva. Mas o que ocorre é que o que senti não podia ser facilmente controlado, era apenas algo que aconteceu, que o organismo pedia para acontecer. Ao tentar dormir, tive a necessidade de voltar ao normal, não queria mais confiar em minhas emoções, elas naquele ponto pareciam destrutivas. Consegui de certa forma me acalmar, mas foi de fato uma longa tentativa.

                       Naquele momento me senti abandonado, não só pelas pessoas, mas pelos deuses. Como poderia ter chegado a uma conclusão tão fundamental na semana passada, e agora estou nessa situação? Busco de todas maneiras compreender, buscar fazer sentido, buscar motivações. Porém tudo isso é insuficiente, há algo em nós ou na realidade que foge a razão, e simplesmente seguimos o curso das coisas.  

                         E agora, numa manhã de domingo estou escrevendo, sem a menor ideia do que o futuro me guarda. O medo que tinha, a ansiedade que tinha, a angústia que tinha, na verdade revelou minhas paranoias, minha necessidade de contato dependente, minha falta de confiança, em mim e na vida. Daí a revolta, querer sumir e não ser mais encontrado. Me resumi a auto-piedade. Mas a vida continua, não é tão confortável viver eternamente no fundo do poço. Deve-se sair, talvez com outra perspectiva.

                        O problema talvez esteja na confiança, no achar que não dará certo, que sempre tenderá ao erro, a falha, ao fracasso. Então retiro meu investimento, não quero me dar mal. Mas e agora? resta a dúvida e a incerteza, da mesma maneira. Se eu achei que encontraria segurança na atenção dos outros, e isso foi frustrado, pelo menos nesse momento, sei que existem outros lugares a serem explorados. Existe a autonomia. Ontem senti o peso da solidão, o peso de uma não confirmação do outro, porém agora estou livre desse julgo, porque não há mais outro. Pelo menos o outro como juiz. Gostaria de acreditar nisso, porém não há outra saída, ou eu sou eu, ou nada feito.

                         Daí vem aquelas pessoas  militantes da autenticidade a todo custo. Nossa sociedade não recebe bem as diferenças, isso é bem óbvio. Agora vejo um lugar que não foi ainda explorado, o meu próprio.  Tentam reprimir, desvalorar, diminuir minha potência. Meu ímpeto rebelde. Bem, ele está aí, ainda. Talvez não conseguirei me desvencilhar dele, o que faço é integrar. Tinha receio de ninguém ver meu sofrimento, de ser esquecido, bem, qual é o problema real disso? Existe sim uma dependência aí, não aguento estar sozinho, de sentir que ninguém se importa na verdade. Então eu tenho que fingir um sorriso amigável? Como fiz na faculdade? Agora de novo quero apressar esse processo, buscando uma resposta.

                          O importante que estou aqui, estou falando sobre isso, existe alguma efervescência. Não gostaria de cair de novo nesse buraco, pelo menos não agora. Não sinto especial tensão, estou tranquilo, isso que importa. Os pássaros cantam, sinto uma certa paz. Não há muito a pensar. Ontem em algum momento percebi o como eu não estava de fato vivendo a minha vida, estava me projetando para fora o tempo todo, não sabia ocupar meu próprio corpo. São múltiplas atividades, distraindo minha atenção, não permitindo olhar para mim mesmo. Então as emoções, que surgiram como uma avalanche. Não quero ser bem comportado, não quero estar nesse lugar de opressão (Vejo de certa forma meu Édipo aí). Esse lugar de dependência, seja da opinião alheia, ou de minha própria noção de civilidade. As coisas tomam outro rumo, e é isso.

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       Percebo que as coisas estão mudando. Sinto um certo receio, não sei para onde isso vai. Percebo que pequenas mudanças estão acontecen...