quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

            Gostaria de trazer aqui uma interpretação de um sonho que tive a um tempo, já faz quase um mês. Talvez traga mais conteúdo dos meus sonhos, venho anotando com certa frequência e comecei a ler o livro do Erich Fromm, A Linguagem esquecida. Percebo que há algumas coisas que quero refletir sobre a minha vida agora, e espero que a interpretação dos sonhos que venho tendo possa me ajudar. Agora postarei o sonho que tive juntamente com a interpretação:

                        Estava num local que era a comemoração de uma graduação que tinha feito. Era um lugar muito interessante, haviam várias pessoas. Houve um momento em que eu estava olhando para um conjunto de estátuas gregas, tentava entender lógica da arquitetura do lugar. Era um círculo de estátuas que se localizava no meio entre escadas. Depois disso estava descendo as escadas e tocou meu celular, era uma pessoa falando comigo, e não tinha reconhecido ela logo de cara. Nesse mesmo momento uma pessoa veio falar comigo sobre alguma coisa, que me irritou um pouco pois estava ocupado atendendo essa chamada. Depois veio outra pessoa para atrapalhar. Tentei procurar um lugar afastado e tranquilo para poder conversar com mais facilidade, acredito que era sobre um trabalho de grupo. A voz parecia Hyldiane do Mutuar. Me senti envergonhado por não reconhecer ela logo de cara, e ela percebeu que não tinha reconhecido ela, pois o nome dela no Whatsapp estava como Download, e ela sabia disso, achei estranho ela ter percebido o nome que coloquei para ela no contato. Também fiquei um pouco preocupado em relação da forma que tratei aquelas pessoas, porém também tentava justificar que estava tentando atender uma chama e elas não permitiam.

                 Depois disso fui a um bar para comemorar a graduação com um pessoal. Senti alegra por isso, por estar com gente nova, senti que estava me enturmando. Ali estava a pessoa que tinha tratado um pouco mal e outras pessoas. Era uma espécie boteco, e era uma mesa posta para várias pessoas, parecia ser um lugar confortável. Me senti culpado pela forma como tratei essa pessoa (no sonho não parecia claro se era uma mulher ou homem, parecia que a cada momento mudava de papel) pedi desculpas a ela (pessoa), e a pessoa disse que estava tudo tranquilo, argumentei que também que era meu remédio que estava alterando meu humor, essa pessoa a princípio parecia Roberto, estava bastante bêbado, falou que via diferença no meu humor, pensei que poderia ser verdade, porém iria dizer que para pequenas coisas eu me irritava com mais facilidade. Enquanto isso pensei o quanto de tempo desperdicei, e quanto eu não aproveitei minha juventude da melhor maneira, estava nesse lugar como se fosse a primeira vez que realmente estava me sentindo acolhido e também com chance de vivenciar o mundo de forma mais intensa. A pessoa em algum momento começa a ficar um pouco inconveniente, isso me incomoda muito. No meio disso vem uma pessoa vender doces. Ele parecia bastante maltrapilho, era calvo, porém jovem e tinha olhos azuis. Não estava muito disposto a comprar os pirulitos que ele estava vendendo, mas me senti compelido a ajudar de alguma forma, decidi comprá-los, então ele me deu um e foi embora sem cobrar nada. Achei estranho ele ter me dado um pirulito e ter ido embora assim. Depois de um tempo tinha saído para arejar um pouco, pois aquela pessoa continuava inconveniente, quando voltei as cadeiras estavam dispostas em uma maneira diferente estava como mais compactadas ao invés de ser uma linha reta. Disseram que fizeram isso por minha causa, talvez para não ficar tão perto dessa pessoa. Sentei do lado da mesa, não fiquei tão confortável, pois a pessoa ao meu lado estava com as pernas apoiadas na cadeira em sua frente, não deixando que minhas pernas ficassem por baixo da mesa, aceitei ficar desse jeito mesmo assim.

                     Depois disso estava caminhando numa praia, acredito com meus pais, não sei ao certo. Estava de noite, a praia estava deserta. Então vejo um grande castelo, entendo que seria a universidade. Tento tirar foto, porém não consigo enquadrar direito, sempre havia algo a mais para tirar foto, era um castelo gigante. Tinha uma frente cheia de tijolos cor de cobre e algumas torres em cima. Quando consegui tirar a foto percebo que havia também mais algo, em cima havia também mais algo, em cima havia local onde estava no início, era um espécie de um prédio pintado de um amarelo escuro. Aquele lugar era imenso.

                         Na última parte do sonho reflito sobre a possibilidade de minha morte e o que sentiria sobre isso, sobre as pessoas que iriam visitar meu túmulo. Provavelmente estava indo para um funeral ou algo assim. De alguma forma alguma forma estranha me veio a mente os Beatles e imaginava a morte de cada um. Entrei em alguns espaços com paredes brancas, parecia um pouco os quadros de Escher, pensava que ali que um dos Beatles iria ser enterrado. Via um espaço retangular com água. Era um lugar bastante claustrofóbico. e tinha medo também da altura.

 

Interpretação

    O primeiro cenário foi descendo a escadaria da faculdade, a primeira impressão que tenho é que tinha voltado ao processo de graduação e esse era o último dia. Durante esse momento em que tive o sonho estava pensando na possibilidade de voltar a uma graduação. Então foi patente esse recomeço, porém com outro arcabouço, tanto intelectual, quanto de experiência de vida. Me chama a atenção pelo fato do sonho começar com o termino de algo, também pelo fato de voltar a uma fase passada, mas não como uma forma de rememorar essa fase, mas numa tentativa de reescrever isso de forma atualizada, satisfazendo aquilo que não consegui realizar antes. Percebo que essa parte do sonho era como se estivesse terminado um ciclo, de forma satisfatória, sentindo que de fato cumpri com meu dever, estava fazendo o papel de adulto responsável. Daí chega a um ponto onde ocorre um conflito, eu atendo uma ligação num celular, representando aí a modernidade, nisso a comunicação é atrapalhada por duas pessoas conhecidas minhas e não consigo reconhecer a pessoa que está tentando falar comigo. Me dá a sensação que há uma frustração desse termino. A seriedade que me exijo ter é frustrada por zombarias.

        A escada é um símbolo de conexão do céu com a terra, muitas vezes é visto como símbolo de ascensão espiritual. No caso estou descendo a escada, como diz Mestre Ekchart ""O que existe de mais alto em sua insondável Divindade corresponde aquilo de mais baixo em sua humildade". Talvez seja necessário fincar os pés na terra, para obter mais humildade. Talvez seja necessário fincar os pés na terra, para obter mais humildade. (Pesquisar sobre as estátuas). Outra imagem que apareceu foi da versão mitológica da carta (II) A Grande Sacerdotisa, onde aparece Perséfone , ao pé da escada que vai para o submundo, aí aparece uma figura feminina que passa a pertencer ao submundo quando casa com Hades, aparece então a figura feminina representando o submundo da consciência, onde habita tudo aquilo que é desconhecido e oculto. É preciso considerar esse aspecto para compreender meu processo, tudo aquilo que jaz no mundo inconsciente que trás novos conteúdos para a mente consciente.

    Nessa parte do sonho, posso entender mais ou menos a coisa dessa maneira: Na parte da escada, eu desço os degraus, querendo dizer que estou entrando cada vez mais nas profundezas na minha psique. No Bar, estou no plano mais fundo. Então é o aspecto mais dionisíaco, onde se pode viver os prazeres, se desprender do controle consciente. Porém, com isso existem as coisas indesejadas, como o trickster e o mendigo. Percebo que essa cena é muito parecida com outros sonhos que tenho com lugares escuros, destruídos. Então aí esse contraste entre o espaço de sabedoria e conhecimento, onde reina a ordem e a beleza, e outro espaço onde se vivem os prazeres mais primais, terreno do desejo e da desordem.

    Daí apareço num bar, o bar aí seria o ambiente oposto ao da faculdade. O bar então é o ambiente onde se pode se desapegar das limitações das regras sociais, onde se pode sair do controle. É o âmbito do irracional. Também aparece a mim recentemente a carta do XV - O Diabo, representando questões parecidas. De novo tenho um certo estresse com uma das pessoas da mesa, a primeira vista penso que é Petros, mas a imagem é de Roberto. É uma figura que me atrapalha, me tira de minha estabilidade, me oportuna. Pode ser talvez um trickster a atrapalhar minhas intenções. Depois aparece um homem maltrapilho, um mendigo praticamente. Talvez interpretaria como uma figura indesejada, alguém ou que gostaria de alienar dos meus pensamentos. Associo ele de certa forma ao IX - O Eremita. Talvez possa imaginar dois polos aí, um espaço de socialização, onde se vivencia intensamente o prazer material e um mendigo, figura desprovida de qualquer matéria, e ainda em relação a carta, aquele dá as costas a realidade mundana para voltar-se a si mesmo. Nesse momento, a contragosto, compro aquele que ele oferece, porém não recebe o dinheiro. Pode-se entender então que é um presente, talvez.

     Depois estou em uma praia, está de noite, e estou com meus pais. Esse lugar me lembra as viagens que faço com eles. Sempre nesses momento não consigo vivenciar o que está a minha volta e estou cada vez mais voltado a mim mesmo e meu diálogo interno. Está de noite, reforçando esse lugar, o lugar do contato com os aspectos mais profundos de si. Porém agora me vejo como filho, um ser dependente, infantilizado. Não combina com o sujeito responsável do primeiro momento do sonho, e nem o sujeito livre e autônomo da segunda. Porém, me lembra esse lugar onde me localiza na família, ou seja, são figuras parentais, ligadas profundamente na minha trajetória, coisa que não pode ser rejeitada. Entretanto não quero estar atado a eles, que seguir pensando meus pensamentos de forma independente. Até chegar a contemplação do castelo. A primeira vista associo o castelo à XVI - A Torre, mas também a representação do passado longínquo, um lugar de fantasia e grandes mistérios. Também me vem a ideia de estrutura, de um construção forte e rígida. A partir do seu simbolismo, aparece o castelo como o símbolo do ideal, daquilo que gostaria de alcançar, também representando a transcendia, interpreto que possa ser tanto a transcendência da condição atual, quanto da transcendência espiritual. Daí também pode-se pensar que o castelo por estar um tanto escuro, está relacionado ao inconsciente, a memória confusa e o desejo indeterminado. Daí entendo que esse castelo personifica todo esse meu ideal inalcançável, essa busca eterna, tanto psíquica quanto espiritual, de encontrar o meu lugar, de encontrar aquilo que desejo verdadeiramente, porém me questiono se esse desejo se tornou parte do passado e se tornou um objeto rígido e sem vida.

 

 

 

 

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