quinta-feira, 17 de março de 2022

Apontamentos sobre sonhos e teorias

       Tive o encontro do Communitas hoje, vieram algumas reflexões sobre algumas coisas que gostaria de trazer a tona. Não sei ao certo se seria melhor escrever no Commonplace book ou aqui, mas sinto maior necessidade de escrever aqui. 

     Esse insight tive agora me remete a diversas coisas que estão me envolvendo ultimamente. Sempre num questionamento constante de que leituras tenho do mundo, como posso compreender os acontecimentos globais e pessoais. Me vem a percepção de onde estou partindo, do que venho estudando o aquilo que gostaria de estudar no futuro. Existe um espaço que é meu, próprio, que muitas vezes busco ou me aprofundar demasiado nele ou tentar fugir dele para outras perspectivas que julgo mais sensatas. 

    O encontro com Belmino que se deu agora me fez pensar nisso. Vejo em Belmino uma figura de ao mesmo tempo admiração mas também uma tentativa minha de buscar uma “rivalidade” no campo teórico. Antes de entrar no processo do Communitas, via a figura de Belmino mais como alguém a se admirar, gostaria de me aproximar constantemente dele e de seu pensamento, assimilar o máximo de suas reflexões, etc. Porém, de uns tempos para cá vejo um outro comportamento em mim, de contestação. Bem, acredito na verdade que são movimentos que são dão de forma mútua, não sei ao certo quando um começa e outro termina, mas percebo que eles estão lá. Dentro desses dois movimentos consegui enxergar um terceiro. Uma possibilidade de junção dos dois movimentos anteriores. Existe nos encontros uma necessidade de aproximação, de buscar se apropriar ao máximo do que está sendo dito por ele, porém vejo também a óbvia diferença. Existem dois mundos colidindo, duas histórias diversas que se encontram. Nunca conseguirei pensar completamente como ele, sempre existirá esse campo vazio que nos separa, que agora enxergo como um campo criativo.

    Posso resumir isso tudo em meu último sonho. Conjuntamente com ele existe uma dúvida constante do lugar que eu me coloco nesse momento, os papéis que venho assumindo. No sonho isso ficou escancarado. Porém, não houve de fato um resultado final de tudo isso. Ainda estou remoendo isso e mais outras coisas. Não sei de fato o que fazer com essas reflexões, com esses questionamentos. Almejo levar isso para Belmino na próxima supervisão. Imagino como será a resposta dele.

     Existe aí um constante questionamento, da necessidade de mudança, ou de ampliar os horizontes. Goodman surgiu como essa figura que quero (como Belmino) tirar o máximo dele, quero entender ele melhor e defender seu pensamento. Consequentemente existe uma outro aspecto, outros pontos de vista que com essa atitude busquei ocultar. No sonho aparecem esses aspectos em primeiro plano. Agora fica de novo o questionamento, preciso mudar de abordagem? Será que devo mudar de posição e com isso mudar a forma como enxergo o mundo adotando outra teoria? Será que estou ocupando meu tempo com uma coisa que na verdade deveria estar me ocupando com outra? 

    Conjuntamente com isso vem outro ponto, a necessidade de complementaridade. Tentar abarcar todos os ponto, não deixar nenhum ponto vazio, abarcar tudo. Será que esse é a mensagem do sonho? Devo abrir mão das fronteiras e poder ampliar cada vez mais essas fronteiras? Hoje no encontro foi falado sobre o excesso de sentido. Percebo que essa abordagem chega a esse ponto, num excesso de sentido, acredito que a postura anteriora também. O que Belmino fala então é num esvaziamento do sentido. Esse talvez é o ponto em que me encontro, de não saber para onde ir e não saber ao certo se posso ficar no lugar em que estou. Nisso há uma tensão, entre o que poderia ser e o que estou sendo agora. O sonho levantou o problema em tentar ser demasiado fiel a um pensamento, mas será que ela aponta para um novo horizonte? Para a necessidade de uma mudança de posição?

    São questão que ficam sem respostas, precisa de uma resposrta? não sei ao certo, espero que talvez Belmino ajude nessa leitura, acredito qeu por enquanto deixo essa questão em aberto. Mas o que penso que foi importante entender hoje seria talvez sair dessas duas posturas que muitas vezes me coloco, ou uma postura de ampliação ou de aprofundamento em um único ponto de vista. O que há entre essas duas posturas? Ainda não sei ao certo e me permito não saber, me permito a entender que outras pessoas (como Belmino) possa ter respostas que eu não tenho e assim posso ser atingido por isso, não preciso ter todas as respostas, entender tudo, de tudo ou de um só tema.

 

sábado, 5 de março de 2022

Sonho: Funeral de Paul Goodman

          Descrição:

          Estava numa Igreja, soube que estavam fazendo funeral do Paul Goodman. Estava de noite e havia um grande grupo de pessoas carregando uma carroça velha. Olhei para a carroça, só podia ver a cabeça e as pernas desmembradas. Lembro também de ter visto o padre. Dino estava junto de mim, ele estava com dois livros dele, achei que ele tinha pedido numa biblioteca. Fui atrás dele, mesmo me sentindo culpado por faltar o funeral. Consegui pegar um livro grosso que não conhecia, havia ilustrações de vários instrumentistas de jazz, tentei verificar se era dele mesmo. Mas não conseguia achar seu nome no livro. Fiquei abismado com a quantidade de nomes de diversos músicos antigos. Ficava me perguntando se haveria um livro desse tipo no Brasil. Tentei ir atrás da procissão, haviam várias pessoas com fantasias, aparentemente era também carnaval.

 

     Comentário:

     É um sonho que intrigou bastante, cheguei a algumas conclusões sobre ele, mas ainda me causa uma certa dúvida. 

    Há um antes e um depois para isso tudo de fato, estava em uma viagem com meus pais. Antes disso estava com Marcos o fim de semana inteiro em casa sem meus pais. Houve todo um processo desde meu aniversário de mudanças de perspectiva. Essas experiências todas me ensinaram bastante.  Tudo está relacionado a diversos pontos em minha vida: Profissional, relacional, espiritual, etc.

    Tudo isso em vista tenho a compreensão que cada coisa tem seu significado específico cada coisa assume seu papel em determinado local. Nada pode tomar um espaço maior, tudo tem seu tempo e lugar. Para mim o sonhos foi uma insurgência dos aspectos que estavam sendo deixados de lado. E de forma peculiar assumia morte da figura central para as minhas reflexões atuais.

    Não sei até que ponto posso compreender esse acontecimento no sonho. Talvez seja a morte de uma figura que me ampara, para então abraçar o terreno da complexidade. Porém, ao mesmo tempo revela no fundo o papel da Igreja como figura de autoridade. Penso nesse óbvio contraste entre um judeu ser enterrado numa cerimônia católica.

     Isso de alguma forma abala algumas estruturas que estavam sendo estabelecidas e não sei ao certo a que recorrer. Acredito que de fato revela uma tentativa de equilíbrio, uma aproximação do inconsciente com o consciente. Mas ainda há uma esperança de chegar a novas compreensões.

     Há outro contraste, onde a procissão deságua numa festa de carnaval. Agora aparentemente há uma dualidade entre o profano e o sagrado, arriscaria dizer entre a parte extrovertida e introvertida de minha personalidade. Chego também a pensar na relação de uma tríade, onde estão o elemento judeu, cristão e pagão, como fazendo parte do mesmo cenário.


Interpretação final:

    • O primeiro plano que aparece no sonho é um ambiente noturno, com luzes que vem da Igreja. Uma imagem um pouco densa, misteriosa. A noite como recorrentemente ligado à manifestação do inconsciente, a Igreja aparece talvez como um ambiente relacionado ao arquétipo materno. Os dois talvez ligados ao aspecto feminino. São aspectos mais profundos da personalidade e mais primitivos. A igreja também representa um espaço dedicado ao espírito, então ligado a questões mais internas do que externas. Porém a cor dourado aparecentemente faz um contraste entre o negro da noite, talvez esteja falando de uma luz interna que não dependo do externo para existir. Também há a figura masculina do Padre, sendo aí representante da autoridade divina. Me lembra a carta (V)O Alto Sacerdote 

  • Outra camada apareceu. Existe aparentemente uma relação entre essas três figuras do começo do sonho. A primeira seria a Igreja, depois o padre, depois a morte. A igreja me pareceu ser um símbolo onde remonta um território, dedicado exclusivamente a essa conexão com esse território sagrado. É considerada a Mãe dos cristãos, que me remete então não só a ideia de uma figura materna onde se encontra conforto, mas como algo que fecunda, que deu origem à cristandade. Também é retratada como microcosmo, como representação da alma humana. De novo aqui um chamamento para os aspectos internos, mas sobretudo parece representar algo de muita importância do espírito. Daí então aparece a figura do Padre, que aqui faço uma ligação com a carta do Tarô. Essa figura trás a necessidade de comunicar um saber, é a transmissão de um conhecimento. Essa figura representa a fé, a subjetividade, também a moral divina que supera a relação com a matéria. 


  • O terceiro fator aqui aparece através da morte. Aqui se apresenta através de uma figura que está sendo central para muito das minhas leituras e das minhas reflexões. Me chama atenção apenas aparecer cabeça e pernas. Primeiramente, é a morte de uma figura de autoridade, é aquele que busco me espelhar, segundo, aparece o corpo em uma carroça, apenas a cabeça e as pernas. A morte talvez aí representaria não apenas algo que deixou de existir, mas uma abertura para algo novo. Entendo que Goodman é um representante dos aspectos extrovertidos de minha personalidade, que tento ultimamente me aproximar cada vez mais deixando de lado alguns fatores mais introvertidos. O segundo aspecto talvez represente a morte do intelecto da relação com a matéria simbolizados pela cabeça e pelos pés. Faria uma leitura que aqui o que importa e o que permanece eternamente é o espírito e não o intelecto e a matéria. A morte então seria um símbolo para abrir mão do desapego para alcançar níveis maiores de espiritualidade. 

       

    •  Agora outros detalhes ficaram de fora da interpretação: os livros roubados e a procissão que logo se torna um bloco de carnaval. São dois pontos que não ficam tão claros para mim. Primeiro a ideia de que livros foram roubados por um amigo meu. Livros então de novo representa um objeto que guarda conhecimentos, aqui de novo aparece uma dualidade onde o conhecimento pode ser produto de sabedoria ou de erudição. Gostaria de saber melhor o simbolismo da procissão católica e como isso pode ter alguma relação com o carnaval. Essa é a parte que fica mais defasada do sonho, que não deixa de ter um significado muito peculiar. No ínicio tenho a impressão de tentativa da psique se voltar para dentro, cortar os laço com o mundo material e se devotar unicamente com os assuntos do espírito. Também um sacríficio do intelecto em prol do conhecimento revelado pela experiência e pela intuição mística. Agora a procissão se torna uma festa pagã, dedicada a carne (Carnaval)

       

  

quinta-feira, 3 de março de 2022

Estádia + Viagem a Paripueira

          Volto de uma viagem com meus pais a Paripueira-Al. Antes disso tive a oportunidade de ter a casa vazia para chamar os amigos enquanto meus pais estavam de viagem para Gravatá. Não sei ao certo se conseguirei resumir toda essa experiência em um único texto, mas vou tentar. 

        Na última sexta chamei Marcos para vim aqui. Bebemos, fumamos e escutamos música. Foi um momento muito interessante. Mas eu desde já senti um pouco de ansiedade. Uma sensação um pouco parecida com o de Gravatá e menos próxima as outras vezes que fizemos esse mesmo tipo de programa aqui no ano passado. Acredito que cresceu demais as expectativas nesse ano. Venho pensando muito na experiência de ter um espaço só meu e como seria ter outra pessoa para compartilhar esses momentos. Então criou-se uma grande carga que acabou se modificando na prática.

      Buscava bastante o melhor momento, ter o melhor tipo de experiência possível, não sinto que fui muito bem-sucedido com isso. Também percebi outras cosias em relação a Marcos esses dias. Percebi a sua imaturidade. Talvez isso dificultou a conversa, ao meu ver. 

      No segundo dia fomos a uma festa na casa de Gláucia. Foi um momento um pouco diferente de tudo isso, foi de fato um desafio. Não me agradei muito com esse tempo lá, fiquei em muitos momentos querendo ir embora, porém algo me fazia ficar preso lá. Voltei para casa com a sensação que de fato não é um ambiente que gostaria de permanecer, mas foi importante para sair um pouco da minha mente, do campo conhecido, me ajudou a relaxar um pouco mais. Outro ponto que me incomodou um pouco foi aturar Marcos bêbado.

      Iríamos curtir um pouco do resto da noite, chamamos Guilherme para vim, porém ele muito tarde. Quando chegou, Marcos já estava dormindo. Enquanto esperava ele curti um pouco alguns reggaes antigos, foi uma experiência muito boa. Pois bem, ele chegou sentamos e conversamos mais um pouco. A conversa foi bem diferente da que tive com Marcos, havia algum conteúdo. A conversa rendeu bastante, tanto que só fui dormir lá pras 3 horas da manhã.

    No domingo fui a Jaqueira junto com Marcos para encontrar com Petros. Foi outra experiência muito boa. Rimos bastante. Foi um reencontro de fato. Senti falta disso por tanto tempo. Petros de fato consegue energizar o ambiente, torná-lo mais tranquilo e agradável, sentirei falta disso. 

      Me lembro de um coisa que falei para Guilherme no Sábado: encontrar perfeição na imperfeição, ter encontros dentro dos desencontros. Para mim esse foi o mote disso tudo, passar pelos acontecimentos, vivenciar as experiências sem uma visão fixa do como eles deveriam ser, mas tendo consciência de como eles estão sendo. Entendo que tudo isso foi uma forma de aprendizagem, além de momentos de puro gozo.

 

     Depois disso, na segunda fui junto com meus pais a Paripueira. Antes da viagem estava com a ideia de que não iria com objetivos pré-estabelecidos, tendo em vista a última viagem a Gravatá, pensei em não ir com o intuito de fazer uma atividade em específico, então tentei ir sem muitas amarras. Porém, é incrível como nunca sabemos o que o destino nos guarda.

      Chegando lá fui tomado por um mal-humor. Havia uma imagem na minha cabeça de um lugar confortável, de um lugar silencioso e harmonioso. Porém, durante o caminho eu vejo uma paisagem feia da pobreza, de um país decadente, tentando se erguer de maneira desordenada. Quando chego ao local que iríamos nos hospedar havia um único desejo, que o quarto fosse confortável. Quando cheguei lá, vi um quarto feio, um quadrado com duas camas, uma parede branca e outra verde. Uma imagem vazia, sem vida, que não permite nenhuma introspecção. Fui frustrado logo de cara. 

     Com o tempo caiu a ficha, eu teria que aceitar essa situação. Percebo que há muitas diferenças entre eu e meus pais, isso me fez sentir irritado, porém com o tempo percebi que não valia a pena lutar contra isso. Foi o maior exercício de flexibilidade durante esses dias. Não foi um programa que eu usualmente gostaria de fazer, mas com o tempo senti que havia um por quê e um pra quê de tudo isso, e eu de fato precisava disso.

     Há algumas coisas que não mudam, esses momentos sempre me fazem voltar cada vez mais para dentro, para o meus pensamentos. Tentei aceitar esse fato. Como também tentei aceitar o fato de que estava num lugar não me proporcionava conforto (pelo menos da forma como eu imagino). Eu sabia que ia sair com algo valioso depois disso tudo. Tinha consciência também que poderia ser uma reaproximação com meus pais. De fato, acredito que foi. Mas também acentuou algumas diferenças e também não haveria talvez a possibilidade de eu romper totalmente com essa barreira. Pelo menos fiquei feliz que dei um passo a frente, não fiquei preso apenas no meu mundo, mas pude reconhecer a possibilidade de me aproximar de outras realidades que não a minha. Tive até um sonho, tentarei relatar ele em outro post.  

    Em resumo, penso que a experiência dessa semana foi de grande valor. Não me vejo preso nas minhas próprias concepções, mas conseguindo entender a coisas de uma maneira mais ampla. Tendo em vista essa amplidão, não só de mim mesmo mas da realidade que me acerca, me faz querer ser mais tranquilo comigo mesmo e com os acontecimentos. Há espaço para cada coisa e no seu próprio tempo, agora posso compreender como não apressar as coisas, como vivenciar melhor as coisas no presente e aceitar tudo aquilo que está fora do meu controle. Consigo entender melhor as coisas que vim me confrontando, desde as pequenas coisas até as grandes coisas. Tento entender as coisas em sua totalidade, sabendo vivenciar cada momento, sem me prender a decisões intelectuais, mas sabendo perceber o que há além do intelecto, do conhecido e manipulável.

      Acredito que isso seja tudo por enquanto. Quero manter essas escritas, há valioso em escrever e organizar as ideias, fazê-las que fiquem mais claras cada vez mais, me sinto tranquilo diante disso.

Reflexões sobre "Cuidando do Cuidador"

      Esse fim-de-semana houve um evento do meu curso chamado "Cuidando do Cuidador". Fiquei um pouco reticente sobre isso, eu ter...