Ontem tive algumas reflexões sobre a vida, cheguei algumas conclusões. Consegui chegar a base de algumas leituras que tenho tido nesse período. Acredito que muito da minha vivência no mundo é através de buscar controle sobre as coisas. Com isso eu sempre acredito que para me libertar desse mesmo controle tenho que me tornar uma pessoa totalmente oposta aquela que já sou hoje. Então assim cria em minha mente uma ambivalência, entre a pessoa que eu deveria ser e a pessoa que sou agora. Então apareceu para mim uma outra alternativa. Existe de certa forma um meio termo para tudo isso. Acredito que esse meio termo não é necessariamente uma mistura dessas duas partes.
Tinha lido em um outro texto na existência de duas vidas, a vida contemplativa e a vida ativa. Tinha percepção de que tinha que balançar entre esses dois aspectos. Porém, acredito que há um terceiro fator, algo novo. É justamente esse algo novo que não é limitado por essas duas possibilidades que gera algo, que permite ser criativo. Portanto eu sou esse processo em construção, estou para ser algo que ainda não sei, que não tenho controle, é nesse entendimento desse algo que não sei, que é desconhecido que me desenvolvo, que posso me libertar das limitações impostas pela realidade do mundo.
Essa reflexão me faz compreender melhor as minhas leituras. Eu não posso me restringir aquilo que está posto, que já é conhecido. O meu desenvolvimento me leva a crer na possibilidade de reescrever minhas existência e o meu em torno.
Eu vejo nas minhas relações com as pessoas um sentimento de que as coisas já estão postas no mundo, que não há a possibilidade de criar algo novo, uma forma de existir nova, uma forma de relacionar nova. Sentia que o projeto de ver uma sociedade com novas regras, com novas organizações não poderia existir. Porém, a questão não seria essa, não é necessariamente buscar uma realidade específica que irá melhorar as coisas, tornar as coisas mais interessantes. A transformação se dá no campo presente, no cotidiano. Se eu mudo, eu mudo meu campo. Se eu tomo uma decisão para um lado, a realidade muda consequentemente. Entretanto, eu não sou o único provocador dessa mudança, eu sou mudado também, eu sou modificado.
Eu não sou necessariamente uma vítimas da realidade, pois eu não estou fora dela, eu não posso me ausentar da realidade. Nesse aspecto, sempre tentei pular fora da realidade. Minha escolha estética muitas vezes se relacionava com o absurdo, no caso do dadaísmo e do surrealismo. Hoje, a partir da Gestalt-Terapia, vejo que a realidade é algo que faz parte dessa equação. Essa oposição entre irracional e racional nem sempre é inteligente, nem sempre o factível. A vivência humana está para além dessas dicotomias.
Agora percebo que mudei bastante a minha percepção sobre as coisas. Busco aceitar essa mudança, ver ela como algo positivo. Permitir ser mudado pelas experiências me faz crer que há algo muito potente nesse processo, me faz ir além de meus preconceitos, das minhas visões pré-determinadas sobre as pessoas e coisas. Entender isso me faz ser mais consciente de mim mesmo, de forma paradoxal. Existe um tempo natural para as coisas, que muitas vezes o processo civilizatório nos furtou (e nos furta). Tenho percebido esse distanciamento do mundo natural, de estar num contexto urbano, artificial, caótico. Porém, percebo agora que não preciso estar no campo para ter essa concepção de voltar a natureza, de voltar ao que é "essencial".
Faço parte do lugar em que estou inserido, no lugar que vivencio agora. Não nego a possibilidade de um dia ter esse tipo de experiência com a natureza, mas para mim agora é fundamental abrir o campo de possibilidades.
Estou em um momento em que me questiono sobre um série de coisas, tenho várias dúvidas. Mas nesse momento chegou esse ponto em que não estava contando. Arriscar faz parte desse processo, errar faz parte do processo. O caso de Felipe em Santiago para mim foi uma aprendizagem disso. A experiência das coisas me ensinam mais sobre a ideia sobre as coisas. Vivenciar as coisas no mundo trazem uma série de aprendizagens que não posso encontrar nos livros ou nos meus pensamentos. Há algo que vai para além dos conceitos. Esse entendimento foi de grande importância para mim.
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