Fui para Gravatá esse fim de semana com a família. Antes da viajei estava um pouco apreensivo, não sabia ao certo como seria, se seria uma repetição da mesma coisa sempre. Por outro lado estava cansado de Recife e das companhias que venho tendo. Estava necessitando de um momento para espairecer, não me preocupar com outras pessoas em volta e estar num lugar mais calmo, próximo a natureza.
Até o momento da viagem, havia uma grande ansiedade, podia perder a oportunidade de ter um tempo de fato sozinho, tendo a casa em minha disposição. Mas soube que havia uma grande possibilidade de não estar muito bem com isso tudo, seria muito fácil de eu estar ansioso e não conseguir desfrutar do momento sozinho. Por outro lado, sentia um entusiasmo em ir, que muitas vezes tentei não crer muito nessa intuição, pois muitas vezes isso aconteceu e não tive um bom resultado disso. Levei algumas vezes essas questões na terapia, elaborei minhas mágoas em relação a minha família e elaborei outras questões também.
Consegui perceber quanto o semestre passado carreguei muito peso, muitas preocupações e ansiedades estavam presentes e mal conseguia ter consciência disso. De fato tive que elaborar muitas coisas, consegui progredir em alguns aspectos da minha vida, mas a viagem me ajudou a compreender de forma mais lúcida todas as questões que estavam me perturbando.
No primeiro dia, quando chegamos, não estava tão bem. Achava que a viagem não iria valer a pena, apesar de estar num lugar mais tranquilo. Achava que ia ser extremamente entediante e que não conseguiria me aproximar de meus familiares para ter uma conversa. Nesse dia todos estavam conversando sobre assuntos que eu não conseguiria me incluir. De fato eu destoava daquele grupo, pois eu era o único jovem de lá. Com o tempo as coisas foram se desenrolando e essa preocupação desapareceu quase que por completo.
No segundo dia consegui ouvir minhas músicas quase que o dia inteiro. Pela manhã e na noite. Não acredito que foi do jeito que sempre idealizei, porém consegui usar esse momento. Tive que aprender a exercer a paciência, quase que todo momento. Assim, pude ler um pouco o movimento das coisas, como eu poderia me encaixar. Jogamos um pouco durante a tarde, que foi bom, porque mostrei os meus conhecimentos através do Master. De noite aproveitei que estavam jogando outro jogo, para focar mais na música, nas cervejas e no cigarro.
No terceiro dia, minha mãe e tia chamaram para fazer uma caminhada. Logo no começo minha tia usou esse momento para falar sobre o hábito de fumar. Já estava na defensiva, porque achei que ela iria me dar um sermão. Acabou que a conversa se ampliou muito mais do que isso. Ela me deu alguns conselhos de vida que me ajudaram muito. Ali consegui entender melhor o motivo da viagem. Naquela conversa pude ver outra pessoa me dizendo que não precisava me cobrar tanto, que podia relaxar mais. Estava precisando que alguém me falasse essas coisas já a um tempo. Isso me ajudou não só a me entender mais, mas entender os outros em minha vida, naquele momento mais especificamente meus familiares. Demorou muito tempo para conseguir entender minha relação com eles. Esse fim de semana me ajudou a me desarmar mais, e vê-los de forma menos raivosa.
A partir desse momento caiu um pouco a ficha para algumas coisas. É estranho pensar que quando voltei da viagem, a vida retornaria. Me sinto feliz por retornar com uma nova visão, uma perspectiva mais tranquila sobre tudo. Porém, ainda há um certo medo, um certo receio, de como serão as coisas. Entretanto, consigo ter uma base onde me estabelecer, sabendo que não adianta me preocupar tanto, pois isso não me ajudaria muito. Foi útil a viagem em me deixar mais confiante nas coisas, buscando deixar as coisas acontecerem sem um esforço para controlar.
Outro ponto que penso que deixou uma marca essa viagem foi sair do meu próprio centro. Muitas vezes idealizei a mim mesmo e a vida que gostaria de ter. Isso criou uma ideia de que sou o centro de minha vida e que tenho que ir atrás desse ideal. Momentos como esse me mostraram outras facetas que dificilmente compreendo. Muitos momentos nos colocam desafios para sairmos de nós mesmos e entender o que está em volta. Aprender a agir conjuntamente com o ambiente de fato faz com que aja uma ampliação da percepção da vida, assimilando novas possibilidades de viver o presente, sabendo ouvir melhor como as coisas se comportam, para ao invés de entrar em conflito saber dialogar e se harmonizar com as coisas.
Essa percepção, ao mesmo tempo que é muito útil para minha vida, gera um certo desconforto, porque aí as coisas não podem ser controladas, assim, de certa forma, parece que perdem a sua identidade. A experiência deixa de ser só minha, mas algo compartilhado. Quando isso acontece, tenho dificuldade de julgá-la, de forma afetiva. Então, não sei ao certo qual o meu papel, muitas vezes cai num lugar cinzento, em que não tenho certeza do quão eu tiro satisfação disso. É de fato algo novo, talvez algo que estou buscando assimilar, mas ainda tem uma certa estranheza.
Para concluir, talvez acredite na ideia do Wu Wei em minha vida atual. As coisas simplesmente acontecem, de forma natural. Muitas vezes tentei forçar as coisas, ao invés de contemplar como as coisas acontecem sem minha ação. Gostaria sim de aprender mais com isso, sabendo aceitar as coisas sem tentar modificar tudo de forma artificial. Percebo agora o quão isso é necessário e me ajuda a crescer e desenvolver.