segunda-feira, 18 de julho de 2022

Diário #8/#9

                   Vou começar a escrever um pouco sobre esse fim de semana, já que não consegui escrever nada nem no sábado nem no domingo. Estou escrevendo isso às 12:02, para mais tarde só escrever sobre o dia de hoje. Não sei ao certo se vou seguir a risca isso, vamos ver.

                   Esse fim de semana não foi muito movimentado, porém houve muito o que pensar sobre ele. Eu decidi que ficaria em casa pelo menos no sábado, precisa de um tempo comigo mesmo, não queria repetir a mesma coisa da semana passada. Tenho a sensação que preciso me afastar um pouco das pessoas, pelo menos variar um pouco a cada semana. Estar sempre com as mesmas pessoas, tendo os mesmos tipos de experiências tendem a tornar um ciclo vicioso. Preciso encontrar liberdade em minhas relações, que pelo menos elas propiciem uma sensação de que posso ser autêntico nelas. A repetição das mesmas coisas, estar sempre junto das mesmas pessoas pode criar uma tendência de me misturar demais na vida delas e não conseguir me separar disso. 

                      Comecei o sábado desenhando, não foi muito prolífico, mas tomei a iniciativa de desenhar. Ainda sinto que me cobro demais, e de certa forma desenhar alimenta o meu intelecto de uma forma distinta. Por um lado quando desenho estou focado na ação física do desenhar, porém por outro muito facilmente caio na necessidade de justificação, de tentar entender qual a minha filosofia em torno das artes, qual é meu estilo de desenho, etc. Eu perdi aquela perspectiva de desenhar em prol de um trabalho de auto-conhecimento, ou algo assim, se tornou um hábito técnico, de criar uma obra ao invés de ser algo que sirva para mim. Talvez faça uma associação com tocar violão. Percebo quando estou tocando para dar conta do projeto que criei antecipadamente em minha cabeça e quando estou tocando por puro prazer. Talvez de repente eu enxergo na arte algo enfadonho nesse momento, porque não consigo me conectar com a parte da inspiração, de estar conectado afetivamente nesse ponto. Foi uma reflexão que tive essa manhã em relação a conversa que tive com Leandro ontem. 

                       Me percebo muito relacionado com o aspecto intelectual das coisas do que a parte afetiva e emocional. E isso consegui encontrar um certo eco na minha leitura da filosofia. Há aqui um conflito que ainda não consigo resolver, ou entender. Para mim está sendo muito mais lidar com conceitos, do que uma parte que se permite sentir e se deixar levar pelos afetos. Não estou colocando a essa ideia como um método para chegar a inspiração artística, mas é algo que de repente percebi sobre o que está acontecendo comigo. Para ilustrar melhor gostaria de falar sobre a conversa que tive com Leandro ontem.

                     Ontem fui ao aniversário de Leandro. Foi inevitável falar sobre as minhas leituras, ainda porque ontem eu tinha terminado um novo capítulo do livro Introdução ao Filosofar. Conversamos bastante sobre essas questões. Depois mais tarde ficamos na laje de sua casa conversando mais ainda. A conversa foi se aprofundando. Ele falava de novo sobre o cristianismo. No momento que tive a vez de falar, tentei falar de novo sobre a filosofia. Mas naquele momento eu fui entrando mais em contato com a minha realidade, daí percebi que estava realmente falando de algo que ia além do próprio conceito. Agora compreendo que para além da utilidade dos conceitos, do porque das minhas relações, do que posso tirar de cada encontro, existe um terreno que pertence ao afeto, que extremamente importante.

                        Esse é um aspecto que tenho a sensação que tinha perdido. Dificilmente eu tenho a sensação que estou de fato sentindo as coisas. Quando há sentimento há um certa defesa contra, pois é como se fosse abrir a caixa de Pandora, onde todos os demônios escondidos estivessem lá presos esperando para serem soltos. Porém, ao mesmo tempo há um facilidade extrema para racionalizar as coisas, para tornar coisas meras utilidades. De repente perceber que a vida não se resume ao que há de útil nela, mas o que há de aventureiro e incerto, dá cor e vida a ela. Percebi nisso, a possibilidade de uma maior entrega, de aproveitar aquilo que vem do jeito que vem.

                               Esses pontos que trouxe aqui contrastam ao mesmo tempo com a leitura que tive nesse domingo. O capítulo focava na função da negatividade. Esse foi um ponto extremamente importante para o momento que estou vivenciando agora. Eu percebo que não consigo ter a mesma ingenuidade perante a vida que tinha anteriormente, ao mesmo tempo que não consigo afirmar e ir além da ingenuidade anterior. O conhecimento seria uma ferramenta de dar esse passo a frente, porém é inevitável que posso perder diversas coisas a partir disso. Quando cheguei a esse conceito da experiência negativa entendi que era necessário entrar em contato com esse algo que incomoda tanto, que seria o nada.

                              Essa conclusão tem um pouco de bitter sweet. Como se fosse um remédio bastante amargo mas extremamente necessário. Consegui encontrar a peça que faltava desse quebra-cabeça. O sábado para mim foi um teste disso. Passei o dia ouvindo música, mas sempre tive essa sensação de nunca conseguir de fato estar em contato com ela. Nada parecia que iria me dar essa sensação de completude. Até um momento que me cansei de atrás das coisas e me dei por vencido. Porém, mesmo assim me sentia frustrado comigo mesmo por ter sucesso nessa empreitada.

                                A única coisa que parece que me dá essa chance de me encontrar é na filosofia. É a partir da filosofia onde esse nada, que sempre tento fugir, tem lugar privilegiado. De repente percebi que o que dá sentido a minha vida, é justamente o vazio que sempre evito entrar em contato. Quando era adolescente ou criança para mim era mais fácil entrar em contato com isso. Hoje me parece uma perda de tempo. Talvez é aí que está minha identidade (como Leandro gosta de dizer). Talvez é no próprio vazio onde as coisas passam a ter sentido. 

                               Penso ao mesmo tempo quando escrevo que esse fim de semana que vem, talvez, irei para Gravatá, só que agora pretendo ficar sozinho lá. Então há aí o desafio de suportar a mim mesmo. Eu tenho a ideia de que será importante para mim isso, eu gostaria muito de aprender a servir de companhia a mim mesmo, mas por enquanto ainda permanece uma grande incógnita de como isso é possível. Penso em levar livros, o laptop para ouvir música e vou ver se consigo levar maconha. Bem, encerro por enquanto a minha escrita, tentaria refletir um pouco sobre tudo isso. Até mais.

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