quinta-feira, 28 de julho de 2022

Viagem a Gravatá II

              Fui novamente a Gravatá. Não atualizei nada do diário para poder escrever um texto resumindo como foi a experiência. Não tenho a intenção de escrever todos os detalhes dessa viagem, agora sinto a necessidade de deixar minha mente vagar um pouco e deixar que as coisas fluam.

              Sinto um sentimento estranho depois de tudo isso. Não é um sentimento de dever cumprido, mas de algo que terminou de uma maneira estranha. De fato não aconteceu nenhum problema objetivo, mas sim uma inabilidade de minha parte diante das coisas. Antes para mim a natureza era como um lar onde poderia descansar minha cabeça e suavizar minhas tensões. Porém o que tenho como resultado é algo que justamente expôs minhas fragilidades, deixando um rastro de caos interno.

              Enfim consegui minha liberdade, tudo era possível ser feito, não haveria nenhuma reprimenda de ninguém. Porém, eu mesmo que me repreendi, eu mesmo que me coloquei numa situação de tensão e conflito. Vivenciando isso era como estar dentro de uma gaiola, não haveria possibilidade nenhuma de sair dela. Só agora, que acabou a viagem que entendi o que faltava ter feito. Precisei vivenciar isso intensamente para entender que muitas vezes eu sou meu pior inimigo.

              Nesse momento é como se eu tivesse caído de um cavalo, a sensação é de vexame e dor, porém, percebo que serviu de aprendizagem, para muitos outros momentos em minha vida. De novo, percebo que não conseguirei mudar tudo de uma hora para outra, mas entender que o que me faltou fora uma determinada coisa que era incapaz de compreender e que agora consigo compreender um pouco melhor, isso me ajuda a ficar menos paranóico.

                Há um série de coisas em minha vida que é um grande mistério. Não sei ao certo quem eu sou e nem qual papel das pessoas em minha vida, etc. Estava pensando antes de sair, que seria infrutífero tentar entender essas coisas, pelo menos de uma maneira apressada. O que está oculto nunca se revelará de maneira tão fácil para mim. Uma coisa que aprendi com o livro que estou lendo é que o primeiro passo para a sabedoria é saber que não se sabe. Percebo agora que esse não saber me angustia, essa dúvida constante sobre o motivo das coisas, é uma busca neurótica por controle. Agora entendo como eu me interrompo, tentando controlar as coisas, tentando buscar uma compreensão que seja agradável para mim. Agora entendo como posso me permitir me entregar mais, sem me preocupar tanto com o resultado, sem ter tanta certeza sobre as coisas.

                Me sinto um pouco cansado. Tenho ainda o medo de que as coisas possam ruir. Entendo talvez até melhor de onde vem esse medo e para que ele serve. Na verdade não permito sentir medo, ou qualquer outro sentimento. Estava ansioso, mas não podia aceitar o fato de estar ansioso. Não podia aceitar outro estado que não o de prazer e júbilo. Tinha que fazer com que as coisas seguissem esse script.

                   Não sei direito no que estou me tornando agora e o que serei amanhã. Há algo que não consigo controlar, há algo para além da minha capacidade de raciocínio. Antes tinha certo ceticismo quanto a isso. Tinha muitas dúvidas sobre minha capacidade de me entregar mais, de correr o risco de assumir a incerteza, de deixar as coisas acontecerem sem ter o meu controle. Não percebia o que estava acontecendo, não conseguia entender porque sempre me sentia infeliz e insatisfeito. Não que eu agora esteja totalmente satisfeito com a minha vida. É que agora é como se eu de fato aceitasse que eu não sei, que eu não tenho consciência de tudo, que talvez não precise.

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