terça-feira, 6 de setembro de 2022

           Pensei em escrever esse texto no Tumblr, mas decidi que talvez seria melhor escrever por aqui. Inicialmente tive a ideia de escrever o resumo do Introdução ao Filosofar, porém está vindo uma série de reflexões que não estão necessariamente ligadas ao livro, então gostaria de escrever um texto com o intuito de liberar um pouco o fluxo de pensamento para poder abarcar minhas reflexões em relação a diversos tipos de assuntos.

             Hoje pela manhã teve o encontro com o Communitas. Venho pensando se de fato esse grupo está sendo necessário em minha vida, tenho a sensação constante das coisas estarem se repetindo e que estou buscando outro tipo de leitura do campo clínico. Desde o final de semana venho refletindo sobre a necessidade de adotar um caminho específico, de definir quem eu sou e qual é o meu propósito. É uma reflexão que tenho já um tempo, mas que em alguns momentos fica mais acentuado. Penso que algumas ideias surgiram a partir da viagem a Maracaípe e tiveram outro colorido quando estive em Gravatá.

          Essa reflexão gira em torno das partes que considero contraditórias em mim mesmo. Isso ficou notório a partir da pandemia. A partir do começo da pandemia houve uma volta a mim mesmo, uma volta a forma como eu enxergo a realidade, uma volta a minha história, a coisas que eram naturais para mim e com o tempo deixaram de ser. Surgiu um sentimento de nostalgia do como eu conseguia enxergar a realidade anteriormente e o conflito do como eu enxergo agora. A transformação no modo como eu encaro a realidade muitas vezes me deixa frustrado comigo mesmo.

          De repente, nesse processo de dois anos percebi que coexistiram duas personalidades opostas em mim mesmo, uma extrovertida e outra introvertida. Faço diversas analogias a partir das coisas que me deparo no mundo, como cada personalidade se comporta, quais são suas preferências, etc. E em mim fica mais óbvio o conflito entre uma perspectiva política e uma perspectiva espiritual. A primeira prioriza a ação no mundo e outra prioriza uma busca interna de conhecimento.

            Nesse processo de dois anos se conflagrou uma constante briga interna por esses dois aspectos. Sempre há uma necessidade de um lado ou de outro de ser a prioridade, de ser a parte dominante. Porém, cada vez mais fica claro quando uma parte busca estabelecer a visão total de todas coisas, assim ocorrendo um empobrecimento da experiência. Percebo isso quando uma parte específica quer tentar chegar a uma síntese prematura de um problema. Busco exemplificar isso quando, por exemplo, tento buscar entender os problemas sociais a partir de um único ponto de vista político, como se essa perspectiva conseguisse dar conta de todo o problema, de outro lado a parte espiritual  almeja uma auto-identificação por alguma linha de pensamento.

             Daí me lembro da ideia de abertura para o real discutida no Introdução ao Filosofar. Agora consigo entender aquilo que se apresentou como um problema durante a viagem de Gravatá. Essa abertura para o real preconizada pela filosofia é justamente essa aceitação do mistério, aceitar que a existência pode sim ser uma constante interrogação, e que não precisa ser solucionada de forma precoce. O conhecer não é uma simples tentativa de preencher um vazio, mas aceitação desse vazio como uma potencialidade, como justamente uma abertura para o novo. Isso me compreender como a contradição é necessária para o conhecer, ela nos faz caminhar, nos motiva a busca pelo novo.

                Isso implica uma diversidade de percepções sobre mim mesmo e outros. Percebo minha necessidade de ter previsibilidade diante das coisas, de saber antecipadamente como as coisas serão ao invés de me lançar a experiência. Isso tudo acontece de maneira irrefletida, sem saber ao certo como faço enquanto faço. Até mesmo no momento em que julgo entender sobre o papel do controle sobre as coisas, continuo com a necessidade imperiosa de controlar tudo, de prever o resultado de tudo, ao invés de estar presente no contato com o mundo.

                 Foi fundamental entender isso, e entender que não preciso me constranger com minhas contradições, com tudo aquilo que sinto que falta em minha experiência. A surpresa em entender minhas limitações, minhas falhas e minha ignorância me faz acender uma chama para tudo que virá, para tudo que posso vir a conceber, e que essa coisa não previsível, que essa coisa ainda não está desvelada.

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       Percebo que as coisas estão mudando. Sinto um certo receio, não sei para onde isso vai. Percebo que pequenas mudanças estão acontecen...