quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Viagem a Gravatá

                   Bem, foi uma experiência em tanto. Sempre demoro um pouco para escrever esses textos. Talvez acabo ficando com algo mais sedimentado sobre as experiências presentes e acaba esvaziando as coisas que são mobilizadas no período anterior, durante e após a viagem. Mas busco deixar que as coisas fluam, talvez aí as coisas apareçam do jeito que precisam ser relatadas.

                       A viagem acabou sendo apenas eu. Não foi muito agradável saber desse fato. Algo simplesmente não deu certo. Agora talvez consiga ter consciência disso. Mas o sentimento de frustração era grande. Porém, ao mesmo tempo o senso de sobrevivência ficou mais aceso. Percebi que havia maneiras de lidar com essa situação, de alguma maneira (estranha) consegui aceitar as coisas como elas eram, e como eu podia fazer as coisas.

                             Não deixei de ter situações desfavoráveis, de me sentir mal por uma série de questões. Sentia que muita coisa que estava acontecendo parecia um erro, que eu tinha me equivocado imensamente. Entretanto, busquei me focar no agora. Busquei aproveitar a viagem, pois eu tive a oportunidade que isso fosse possível e não queria desperdiçá-la.  Agora percebo que não preciso forçar as coisas. Posso deixar que as coisas aconteçam do jeito que elas têm que acontecer. Refleti sobre a diversidade de coisas que eu não percebo em relação a mim. Coisas ocultas em meu comportamento que fogem minha compreensão racional. Existe um senso de dever e justiça que quero dar conta todo custo. Porém, no final acabo me sentindo frustrado.

                                  Os dois dias bebi muito e fumei muito. Por um lado busquei aceitar isso, não havia ninguém para me censurar e a situação de alguma forma pedia para que eu metesse o pé na jaca. Houve culpa sim, houve medo sim, houveram receios. Mas não havia possibilidade de me aprofundar tanto nisso. Eu queria me divertir com o que estava disponível. Mas também, não podia evitar certas coisas. Tinha que aceitar o processo.

                                 Minhas companhias lá acabou sendo os gatos. Foi uma interação muito interessante. Eles não interagiam tanto comigo. Porém, sempre havia alguma forma de entrar em contato com eles. De fato, eles queriam satisfazer suas necessidades mais básicas, comer. Enquanto eu queria satisfazer minha necessidade de contato. Acho que houve de certa forma uma comunicação interessante a partir disso. Eles não invadiam meu espaço emocional e eu não invadia o espaço físico deles. Apenas quando necessário.

                                        Foi muito bom também poder escolher a música que eu quisesse. Dormir na hora que eu quisesse. Poder fazer o que eu quisesse, sem ninguém me julgar. Senti falta de algumas pessoas. A cada momento lembrava de alguém e sentia falta que ela não estivesse ali. Mas foi uma experiência muito boa, onde pude deixar acontecer. Sem fronteiras rígidas me prendendo. Agora, sei que posso deixar que a coisa seja o que ela é. Sem prender tanto. Talvez a diversão que busco pode estar em qualquer lugar, a qualquer momento.

                                  Desenhei. Na maioria das vezes era frottage. Fiquei obcecado por isso. Li muito pouco. Li um texto do Alan Watts. Que me impactou bastante. No domingo de noite, bêbado, li um pouco mais do texto de Sartre Existencialismo é um humanismo. Consegui tirar algumas conclusões também disso. Que mais? Tive alguns problemas também. Não tinha gás, o microondas não estava funcionando. E quando voltei da padaria para esquentar meu almoço estava sem água. Mas no final das coisas tudo se resolveu. Talvez seja isso que devo assimilar, tudo se resolve com o tempo.

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       Percebo que as coisas estão mudando. Sinto um certo receio, não sei para onde isso vai. Percebo que pequenas mudanças estão acontecen...