segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Viagem a Merepe

  Esse último final de semana estava em Merepe. Com família e namorada. Houve algumas reflexões importantes durante esse processo, talvez gostaria de refletir sobre outras coisas também. Foi um processo que me mudou de certa forma, não sei até ponto posso realmente entender essa mudança, mas consegui enxergar que houve algo.

                        Chegamos no sábado nessa casa de praia. Foi uma mudança realmente brusca. Acredito que atribuo essa mudança pelo fato de estar muito preso a uma rotina dentro de casa. Também pelo fato de estar num período bem turbulento. Muitas coisas estão vindo a tona, e isso se evidenciou na viagem. Por um lado, percebo que o clima do lugar me ajudou a relaxar um pouco, algo que é raro. Por outro, estava claro que minha mente estava muito acelerada e não conseguia estar presente.

                      Uma das primeiras coisas que pensei quando cheguei na casa foi ler. Quando começou as arrumações, guardar as malas, etc. Tomei um banho, e logo peguei um livro de Nietzsche. A princípio não consegui me concentrar muito bem. Então decidi curtir mais o momento. Escutei um pouco de música, conversei. Um pouco mais tarde chegaram mais pessoas. Haviam pessoas que eram desconhecidas para mim. Havia minha prima Rosa e seu filho, junto com sua esposa. Bem, foi bom ter a presença de outras pessoas, não eram as mesmas pessoas de sempre.

                      Lá pro final da tarde, mais ou menos, fomos andar na praia. Geralmente aconteceu o que acontece sempre comigo, minha mente nunca está no lugar onde estou. Conversei um pouco com Ilana, tenho sempre o temor de não ter nada para conversar com ela. Voltamos. Fui logo para a rede para ler, mas Ilana foi junto. Ficamos abraçados por um momento. Daí falei para ela que queria ler um pouco. Então comecei a ler, agora com mais atenção. O resultado da leitura me fez rever uma série de coisas. Comecei a pensar o quão ilusório tudo é, e como tudo foi criado a partir de uma perspectiva que eu não concordo. Porém, isso acabou atrapalhando meu contato com outras pessoas. Não consegui me desligar disso.

                    Tentei lidar com isso de alguma forma sem tentar afastar esses pensamentos, mas tentando ao mesmo tempo estar presente. Foi uma mistura um pouco difícil. Mais tarde meus pais foram para dentro da casa para jogar um jogo. Eu estava fumando e acabei não participando. Então aproveitei pra ouvir um pouco de música. Mais tarde entrei no jogo. Um jogo bem simples, mas divertido. Depois que acabou o jogo voltei para o terraço para ouvir minhas músicas, já que estavam se preparando para dormir. Meu pai reclamou do barulho da música, então mudei para Premiata Forneria Marconi, que eu sei que ele gosta. Falei um pouco sobre a banda para Ilana e a cena de rock progressivo italiano. Depois coloquei Leonard Cohen para ouvir. Então falei um pouco sobre ele também para ela. Falei sobre seu retiro como monge budista. Esses momentos estão sendo bastante ricos para a relação, estou tendo a oportunidade de compartilhar um pouco sobre mim com ela, isso me deixa feliz.

                   Depois ela foi dormir. Deixei o album acabar, então escolhi outro álbum dele, Songs of Love and Hate, talvez possa afirmar que é o álbum preferido dele. Pude adentrar nos aspectos mais profundos da alma humana com esse disco. Me impressiono como ele é impactante e acessa tão profundamente quem eu sou. Era um momento de encontro com minha própria identidade. Fique bastante emocionado.

                  Então fui dormir. No outro dia fomos para uma praia em Porto. Fique um pouco resistente de ir, queria ficar na casa ouvindo música. Mas pensei que deveria ir, para agradar Ilana e sair um pouco da minha zona de conforto. De fato foi um grande esforço, porque muitos momentos eu sentia que deveria ter ficado. Mas acabou que valeu a pena, consegui relaxar um pouco. Porém, ainda estava um pouco agitado mentalmente. Então, tinha que exercitar a capacidade de estar presente, de experienciar outras formas. Percebo o quão difícil é para mim. Sair um pouco do mental para vivenciar as coisas no mundo.

                  Voltamos para a casa. Arrumamos nossas coisas e voltamos de novo para nossa casa de fato. Acho que foi uma sensação muito estranha que demorou um pouco para se estabilizar. Segunda-feira ainda estava bastante caótico, só terça que eu consegui ficar mais tranquilo. Apesar de que tive uma discussão com minha mãe a noite. Ontem fiquei um pouco deprimido com a briga. Tem certas coisas no que está acontecendo agora que fica difícil de ter uma ideia precisa. Não tenho mais uma rotina muito bem definida, estou lendo muitas coisas ao mesmo tempo, não consigo focar tão bem quanto antes. Acredito que talvez posso entender melhor as coisas no mês que vem.

                     Ontem caiu a ficha que estamos no mês de Escorpião. Talvez seja isso que esteja acontecendo. De repente há um ambiente caótico, indeterminado. Como se fosse um purgante, que estivesse aos pouco expulsando as impurezas. Entendo que só me falta aceitar o processo, ao invés de tentar controlá-lo. Muitas coisas em minha consciência apontam para um medo, para tentar definir as coisas, ter metas, cronogramas. Mas outro lado quer se libertar de tudo isso, quer ser criativo, livre, autônomo. Não aceito mais que pessoas digam o que eu tenho que fazer, eu sei o que tenho fazer, e estou em direção daquilo que será minha realização.



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