Me percebo nesse momento. De uma forma bastante diferente, mais consistente, mais presente. Percebo os pedidos do meu corpo, o que ele está me pedindo fazer, o que ele deseja fazer. Não é uma postura fácil para quem está o tempo todo sob controle, não existem formas para chegar a esse estado de fluxo.
As teorias que venho me alimentando deixaram de ter um papel ditatorial sobre mim. Agora elas fazem parte de mim como sendo algo que faz parte do todo em que participo. Existo, estou aqui, nesse aqui-e-agora. É de certa forma uma maneira estranha de viver as coisas. Como se o tempo todo fui instado a ter que me comportar de uma certa maneira, não de uma forma espontânea.
Queria elaborar um texto que talvez teorizasse as minhas experiências. Agora vejo que isso não tem o mesmo poder, o mesmo significado. Não estou me forçando a nada. Isto, certamente, é um ato arriscado. Não sei qual o próximo passo, não estou mais premeditando o que vou fazer. Só estou participando disso tudo, sem a necessidade de chegar em algum lugar.
Talvez esteja aceitando a vida como ela se dá nesse agora. Há algo em mim que pede para me firmar em alguma coisa, em ter definições. Deveria fazer algo com isso? acredito que não. Qual é a próxima? Qual a próxima palavra que usarei? Nada disso importa mais. Não importa mais desejar tantas coisas, querer ter tantas experiências, para me preencher.
Revisito meu lugar como profissional. Não me prendo mais tanto a teorias (ou a autores). Consigo enxergar o meu ser em sua inteireza. Exito um pouco. Com um certo cuidado. Já não avanço de forma tão brusca. Existe um silêncio aqui. Deveria aproveitar isso. Dar pausas, fazer intervalos. Contemplar.
Sou só um corpo nesse presente. Vivencio algo nesse agora. Sem exigências. Sem planos. De novo o vazio, alguma necessidade querendo ser inserida. Espero. Sem pressa. Até nessa tranquilidade existe intensidade, existe beleza. Almejei por tanto tempo uma experiência mais estética das coisas. Venho batalhando, lutando para vivenciar as coisas de forma mais sensível. Agora esse é o momento. Não há nada para se fazer. Nenhum lugar a se chegar. Posso relaxar e deixar as coisas fluírem.
Quero terminar esse texto. Certamente gostaria de expressar mais coisas. Talvez não há nada mais a se escrever. Permito que esse momento seja do jeito que ele é. Percebo o escuro do final da tarde, os sons em volta. Olho para a janela, não me demoro. Quero sair um pouco. Agora aqui me despeço desse texto para admirar a paisagem.
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