quinta-feira, 25 de março de 2021

Continuação do trabalho com símbolos

 

                          Fiz esse desenho no sábado passado para uma aula de Arteterapia. A intenção não era essa, o trabalho era para ser feito com uma foto, porém estava resistente em usar minha foto e naquele dia acabei fazendo um desenho que veio a minha mente. Primeiro uma caneca para fazer o centro, depois os nervos, que sempre fazem parte dos meus desenhos.

                           Lembro que durante a criação do desenho me senti estranho por estar fazendo um circulo branco no meio do papel ao invés de colocar minha foto, me senti como se não tivesse face, como se eu não estivesse sendo representado. Porém a imagem parecia comunicar algo muito importante naquele momento, isso me tocava profundamente. 

                           Olhando para imagem me vem uma sensação muito forte, algo eletrizante porém aterrorizador, uma energia que não tinha sentido nesses outros desenhos. O centro me representa, um vazio, sem nada no seu interior. Porém fora do círculo existe bastante energia, algo vibrante, com as cores que venho usando muito, vermelho e amarelo. Porém existe uma barreira que não deixa nada entrar nem sair. Com isso existe uma tensão forte.

                          Outras imagens me vêm a mente olhando para isso. Neurônios, imagem de um olho no centro. A imagem é simples, direta, me colocou em um lugar onde não está esperando chegar. Porém existe essa mudança para o estado totalmente disforme do último trabalho para esse. Existe uma forma, de novo um formato circular, mas em oposição a uma forma mais fluída que está no externo. Por um lado isso me põe num lugar de confronto, de energias que estão digladiando, porém existe outro lado onde senti necessidade de uma forma mais concreta, onde é possível uma compreensão mais precisa.

                             Outra reflexão me vem quando penso na sequência, que esse desenho como o primeiro representa contato, porém um contato conflitivo. O sentimento evocado no primeiro é o de raiva, um sentimento destrutivo e criativo ao mesmo tempo. Porém agora a raiva está ligada ao medo, por isso cria uma barreira. Essa barreira impossibilita uma comunicação satisfatória. Também penso que esse desenho é uma busca por contato, ao invés de pensar em uma barreira penso que o circulo busca uma aproximação com as extremidades, havendo uma troca de energias, remetendo talvez aí um organismo biológico, que necessita de trocas de energias para permanecer vivo.

                             A primeira imagem foi ligado aos genitais, e representa os impulsos mais primários, mais imediatos e necessidade de expandí-lo, de colocar essa energia para o mundo. Agora essa imagem representa a energia mental, que talvez não está se comunicando com o resto do corpo, por isso um conflito, entre as vivências e o julgamento, Entre ver e ouvir.

                            Também devo pensar que a última mandala, a energia está dentro do círculo, querendo sair, nesse agora a energia está fora, e não dentro. No último desenho existe um globo, porém não tem uma relação direta com o fogo. Esse é outro tópico que achei interessante pensar.

quinta-feira, 18 de março de 2021

O Fim da Sociedade Fabiana do Recife

                                                       Carta de Tarot – O Mago – The Magician - Caotize-se

 

                  Nessa Terça aconteceu o fim da Sociedade Fabiana do Recife, foi um evento estranho, porém esperado. Desde sábado tínhamos acordado nos encontrar para debater o filme 7 de Chicago, porém quase ninguém demonstrou interesse. Isso já era algo que eu esperava, porém tentei remediar a situação, só que o resultado nos levou ao fim. Tive uma atitude emocional diante da falta de compromisso de um membro e fechei o grupo do Telegram. Entretanto já estava imaginando que algo desse tipo aconteceria se nada fosse feito.

                   Restou um certo ressentimento, um final brusco, porém acredito que fora necessário, na verdade nunca realmente sentia que o grupo estava comigo, sempre senti que eu estava sozinho, estava armando uma batalha de maneira solitária, então talvez fora melhor mesmo. Me faz perguntar um pouco do porquê disso, se esse movimento fora uma ação necessária para terminar um ciclo, para me abrir para outro processo, talvez mais real. 

                 A sociedade consistia na esperança de trazer ao mundo uma concepção pouco conhecida, queria que pudéssemos experimentar nossas ideias, debater livremente sobre diversos assuntos, principalmente os problemas que nos acomete como sociedade. Porém, senti que havia uma falta de ânimo, as pessoas não estavam realmente dispostas a colaborar. Isso me fez muitas vezes a pensar na natureza humana, se estaríamos fadados a inação, a indiferença. Não sei se com isso posso chegar a essa conclusão. A perspectiva que me fez pensar que isso não seria o fim mas uma começo, seria a oportunidade de me focar em mim mesmo, não em utopias, porém na vida real, concreta que levo. 

                 Utopias agora parecem para mim algo intangível, dependente de outrem, o que percebi que eu posso buscar aquilo que sou destinado a fazer, não depender da ação de outros. Esse desejo de construir uma sociedade, de propor novas saídas para os problemas atuais não parecem ressoar na maioria. Não sei se é meu caminho agora me afiliar a esses ideias, ou seguir o meu caminho.

                  Me sinto triste por esse fim, porém me pergunto se estou menos triste que as outras pessoas no grupo. Não sei se posso me permitir abater por isso enquanto outras pessoas que compartilharam a mesma sociedade não tem esse mesmo sentimento, essa mesma intenção de provocar mudanças. Ainda me preocupo com o mundo, porém, se aquela coisa que mais dava valor como uma forma de me engajar nas mudanças que o mundo precisa falhou, não sei se vale a pena. Busco fé nas coisas positivas, nas coisas que vejo capacidade de crescimento, pelo menos entendo isso como fé.

                Agora, esse espaço provavelmente vai girar em torno cada vez mais no processo pessoal do que uma preocupação de algo coletivo. Vi me sinto mais a vontade em dedicar a reflexões que justamente colaborando para um entendimento de mim mesmo do que entendimento de conteúdo externos, sendo assim será mais escasso conteúdos teóricos e mais presente relatos de minha experiência subjetiva.

quinta-feira, 11 de março de 2021

Percepção da realidade

                           Lendo sobre Fenomenologia me veio uma compreensão de como percebemos o mundo. Pode-se compreender o mundo através de uma visão unificada do que é a realidade, porém essa realidade é uma construção e que constantemente é cindida, constantemente se reconfigura. 

                            Isso me fez compreender melhor a visão da Gestalt-Terapia, condiz muito com o que já intuía. Os fenômenos não são algo pertencente ao mundo ou ao sujeito, não existe nada que possa ser considerado puro, sempre é uma constituição de uma percepção. Isso não quer dizer que nada existe no mundo, o que quer dizer que nossa percepção não se encontra essencialmente no mundo. 

                            Então, os conceitos que criamos para nós mesmos não são estáticos, eles não se estabelecem em um significado, mas é uma produção constante de significados. Isso me permite entender que podemos interpretar o ambiente e mesmo assim essa interpretação não conseguir abarcar a totalidade que ele é. Talvez então a vivência dessas coisas através de nosso juízo não pode resumir a coisa. A coisa é uma potência, é sempre uma capacidade de vir a ser e a minha interpretação sempre pode sofrer mutações através dessa potencialidade.

                             Isso tem um ponto positivo, pois eu não preciso me limitar às boas experiências do passado, o novo sempre adiciona algo a minha vida, então é só ser capaz de deixar as coisas acontecerem. Porém, por outro lado, não existe uma visão de vida que permaneça, que eu possa me apoiar para poder investir nisso. Fazer escolhas, projetando um futuro, que possa inspirar meu presente, essa segurança de certa forma me inspira a criar, a ter confiança no que estou fazendo. 

                             Identifiquei também na obra de Jung a possibilidade de encontrar nos mitos o sentido intrínseco na vida, a vida não se constitui meramente das coisas que são visíveis aos olhos, as coisas fazem parte do nosso dia-a-dia burocrático, mas na crença que a fantasia fala de um aspecto heroico da humanidade, que pede para ele ir além de sua própria natureza. Então crer no sentido intrínseco das coisas sim é de grande valia. Enxergar o mundo negando o em si das coisas, por outro lado, permite o contato com as coisas sem preconceitos, uma vida dedicada aos sentidos e não aos conceitos. Uma vida dedicada aos conceitos nos encerra em preconceitos, nos frustra pelo mundo não ser aquilo que projetamos e escancara nossa incapacidade de desvendar o segredo da realidade. O mundo então não está aí para ser interpretado, mas para ser vivido.

                            Aparentemente esse conflito ainda está presente em mim, nas escolhas de leitura, também na minha leitura de vida. Mas permaneço ainda lendo, refletindo, deixando que essa reflexão amadureça e traga frutos bons para o que trabalho e para minha vida. É um processo de longo-médio prazo, que dura tempo para chegar a um compreensão mais satisfatória de tudo isso.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Contemplando dois pensamentos

                        Uma coisa vem ocupando minha cabeça. Existe sempre essa dualidade constante entre dois pensamentos conflitantes, duas formas de conceber o mundo. Isso se reflete muito no meu trabalho clínico, na forma como atendo meus clientes e ao mesmo tempo a maneira como encaro a vida, também o que venho refletindo no Cadernos.

                         Aqui permito que minha imaginação flua, não há fronteiras, permito que eu mesmo possa me expressar livremente sem restrições. Isso inclui entrar em contato com perspectivas mais transcendentalistas, aprofundar no próprio eu, trazer a tona o auto-conhecimento. Por outro lado a minha perspectiva clínica adota experienciar a vida sem o advento desse aspecto reflexivo, mas exercer o aspecto experiencial da vida, ver a vida como ela aparece e não tentar desvelar o sentido que nela reside.

                       Estou lendo Fenomenologia e Gestalt-Terapia. Acho uma perspectiva muito interessante, porém uma leitura difícil. Trás uma leitura de mundo através do que ele apresenta para nós, descartando os para si e os em si. Com isso só importa a qualquer atividade humana a compreensão daquilo que ele apreende no campo. A escuta clínica se preocupa com que sujeito faz e diz na clínica do que o conteúdo, das causas. - Entendo que é um visão de mundo muito interessante, porém muitas vezes me parece uma visão desconfortável, que não permite se apropriar das situações e desenvolver algum significado em cima delas.

                       A passo que minhas leituras e a prática clínica me levam para o lado  da Fenomenologia, os trabalhos artísticos no grupo Traços me levam para uma perspectiva mais junguiana, e esse símbolos que são constelados me levam para uma reflexão profunda de quem eu sou e quem estou sendo e para onde devo ir. Me preocupo então se devo de fato fazer essa viagem entre símbolos, mitos e arquétipos de vez e deixar o realismo seco da fenomenologia. Devo afundar nessas águas profundas do meu inconsciente? Ou ficar no lugar seguro do mundo superficial dos meus sentidos? Nesse momento me permito se os dois, deixando um lugar adequado para os dois. 

                        Obviamente sinto falta de estar sempre inundado de leituras, manter minha imaginação ativa, deixar minha mente entretida com minhas meditações sobre a vida e minha alma. Porém o mundo em que pertenço pede que eu finque meus pés, que não me deixe seduzir por fantasias, mas que possa viver o simples de estar aqui-e-agora. Não ser conduzido pelo ego, porém me deixar levar pelos caminhos incertos, me ajustando criativamente. 

                         A partir do meu último post penso se ainda quero voltar a condensar algo, fazer com que algo seja claro para mim, entender qual é meu objetivo, o lugar que quero alcançar ao invés de viver um indefinido, vivenciando apenas. Existe um desejo de materializar algo, fazer com que algo fique claro para mim, objetivo. Agora estou fazendo coisas que me trazem certa desconfiança, sensação de estar confuso. Mas mesmo assim insisto, por quê não vejo outra forma para a atual situação. Esse equilíbrio difícil porém necessário está sendo cada vez mais exercido, demando manter uma organização mínima no que irei fazer.

                                 

                          

Entrevista para genograma de minha família

             Ontem, fiz uma entrevista com minha prima para fazer meu genograma. Deveria ter feito isso já um tempo, mas acredito que foi p...