quinta-feira, 28 de outubro de 2021

                        Decidi não continuar com o mesmo estilo de texto dos últimos posts. Compreendi que agora estou em outro momento. Comecei mais um livro a pouco tempo chamado Narcisismo e Transformação do Caráter, de Nathan Schwarts-Salant. Decidi parar de lê-lo, senti que não era o momento. Houve uma confusão entre a busca por teoria e a busca por auto-conhecimento, senti que não precisava misturar as duas coisas. Estou chegando a algumas conclusões naturalmente a partir do livro da GT.

                             Havia um certo peso ao tentar ler sobre esses assuntos, em algum momento não conseguiria continuar com esse passo. Senti que precisava deixar o campo livre, deixar que certas coisas se manifestem sem a necessidade me implicar nisso, sei que virá de alguma forma. Percebi que passei minha reflexão em relação ao arquétipo da criança para o entendimento do si-mesmo através do livro, agora posso dizer que me entendo melhor, existe uma sensação de totalidade, porém uma clara incompreensão dessa totalidade, sabendo que há muitas coisas que não tenho conhecimento. Prefiro agora me ater a humilde posição de ignorância, buscar essa sabedoria sem ser o momento certo não me faria bem.

                           Estou em um momento da vida onde certas coisas emergiram a minha percepção, e busco respeitar isso, mesmo sendo um processo difícil. Ainda me sinto confuso, desconfiado. Porém, sabendo que a cada momento existe algo que me faça compreender melhor o estado em que estou. Mas agora não há controle, é exatamente o oposto, abrir do controle se faz necessário. Mas o ego certamente não permite isso, ele almeja o controle. Não sei como ficar em paz com esse eterno conflito se dando em mim. Muitas vezes busco por uma luz, mas sei que nada será de uma vez. Leva tempo.

                               Agora busco simplificar um pouco mais, aceitar o ritmo natural das coisas. Sinto uma certa leveza necessária, não posso apressar nada. Desmarquei o biográfico para próxima semana. Preciso de mais tempo para digerir essas coisas todas, sei que não é o momento para a consulta. A última sessão me fez lidar com o aspecto do isolamento que é bastante presente em minha vida até hoje. Foi bastante difícil ter que lidar com isso. Mas eu sei que terá outras coisas para ver e perceber. Então tento deixar acontecer. Também em relação minha terapia. Talvez aquilo que estou conseguindo na terapia não é apenas uma libertação, mas uma compreensão progressiva de minhas questões.

                                Sinto uma certa leveza, porém também um vazio. Um vazio mais como uma ausência de algo, menos como um sentimento abismal. Porém é também angustiante por não saber sobre o futuro. Quero a segurança que tanto o livro da GT abomina. Não consigo ter fé. Não consigo ter confiança nas coisas que aparecem. Tudo tem uma aparência de guerra, de tensão. Busco tentar olhar as coisas por outra perspectiva, sabendo que as coisas podem se organizar. Porém a ansiedade é constante, fazendo com que eu tenha necessidade de controlar as coisas, de ter certeza do que vai acontecer. E ainda o medo do erro, de não fazer as coisas da maneira certa. Busco entender que nada é por acaso, que estou guiado por forças maiores, que me ajudam e cooperam com meu desenvolvimento.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Arquétipo da Criança - Relato

 

                                Agora dou prosseguimento ao último post. Agora sob a influência do Arquétipo da Criança venho estudando sobre o tema e chegando a importantes insights. Tentarei mesclar entre a leitura e minha experiência desse momento. 

                          Os primeiro momentos onde percebi que tinha mudado o focado da Mãe para a Criança, percebi algo muito diferente. Tudo ficou mais claro, a sensação de estar mais tranquilo comigo e com o mundo, algo novo apareceu. Logo percebi que a influência do inconsciente deixou de se tornar tão opressivo, entendi logo que a Criança seria a representação da liberdade necessária para esse momento. Enquanto a figura materna muitas vezes veio até mim como uma figura castradora, me limitando a influência dela. A criança apareceu como uma figura que me libertava dessas amarras, eu podia então vivenciar as coisas o medo das represálias do destino, agora estava entendido que nada é por acaso e que estava consciente dos acontecimentos.

                           O arquétipo da criança representa então essa união de opostos, a superação dos conflitos entre os opostos. Estava claramente nesse dilema, acredito que sempre estive e não entendia a profundidade disso. Antes mesmo de me confrontar com o Arquétipo Materno, estava em conflito com as partes extrovertidas e introvertidas de minha personalidade. Agora a Criança permite a união desses opostos em uma só unidade, a compreensão de mim mesmo como uma totalidade. A criança aparece então como uma possibilidade até então não compreendida pela consciência, é justamente o terceiro elemento resultado do encontro dos opostos.

                                Portanto, é o nascimento do novo, de novas possibilidades. Uma nova realidade se apresentou, agora não há mais dois, mas a convivência entre a unidade e o múltiplo. Porém essa potência que é a criança trás muitos perigos que ameaçam sua integridade. Porém, ela se impõe, pois ela vem do útero da natureza, ela é o chamado da natureza para que o sujeito possa ser si-mesmo:

                                  "Ela representa o mais forte e inelutável impulso do ser, isto é, o impulso de realizar-se a si mesmo. É uma impossibilidade de ser-de-outra-forma, equipada com todas as forças instintivas naturais ao passo que a consciência sempre emaranha em uma suposta possibilidade de ser-de-outra-forma. O impulso e a compulsão da autorrealização é um lei da natureza e, por isso, tem uma força incrível, mesmo que seja efeito insignificante e improvável" - (JUNG, p.172)     

                              Porém com a superação da dependência do símbolo materno, com isso há o abandono. A primeira sensação foi justamente essa, não havia mais o amparo esperado. Agora é preciso que ande sem a perspectiva de um guia, agora é necessário a busca por uma separação da fonte, rumo a autonomia. Agora é o momento da experimentação de uma nova fase, onde teoricamente não há restrições. O sentimento é de leveza, porém há o sentimento sim de abandono, tanto no âmbito psíquico, quanto no âmbito material.

                                Encaro minha própria realidade, minha solidão. Onde não há possibilidade de proteção, só assim para me tornar uma unidade comigo mesmo. Me sinto de fato um todo. Percebo a necessidade de respeitar minhas limitações, minha história, minha personalidade. Porém, mais uma vez os perigos estão sempre aí, ameaçando essa nova resolução. Ainda me percebo incrédulo em relação a mim mesmo, porém sou forçado a retornar a meu próprio caminho. Pensar meus próprios pensamentos, sentir meus próprios sentimentos, sem a dependência de outrem. Sinto uma estranha combinação de sensações, que às vezes não parecem muito bem definidas, elas se juntam em uma única mistura confusa. 

                                 A criança representa tanto uma volta a origem do si-mesmo, uma volta ao passado quando perdemos nossas raízes, quanto aponta para o futuro, um potencial futuro até então não compreendido. Ao meu ver é o retorno a uma realidade de inocência, onde se é o que se é puramente, sem a intromissão do mundo externo, mas também a possibilidade da superação dos limites presentes, possibilitando uma compreensão melhor de si, mais lúcida. 

                              Lendo o livro da Gestalt-Terapia trouxe uma importante reflexão sobre esse momento. Trazendo o conceito de "desprendimento criativo", onde o sujeito substitui a ideia de segurança para a ideia de fé. A total confiança em si e nos movimento naturais que nos acompanha, não temer o futuro, as incertezas, mas confiar no que se sucederá, entendendo que tudo se organiza naturalmente sem nossa interferência. Percebo com essas vivências tudo tem seu processo, todos acontecimentos que vem se apresentando diante de mim são ajudas para o meu desenvolvimento atual, então só depende de mim me alinhar a sabedoria universal.

 

 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Arquétipo Materno - Resumo

 

                    O arquétipo materno antes de mais nada representa algo muito mais amplo do que a relação pessoal de mãe e filho. Como arquétipo pode aparecer em diversas formas em diferentes culturas. Pois, os arquétipos não são a coisa em si, mas aquilo que precede a figura, ela preexiste na psique coletiva, então surge como símbolo em diversos formatos durante a história. Deve ser compreendido pela sua forma, não pelo seu conteúdo, ele se comunica através dos símbolos, acompanhado por um fator emocional.

           O arquétipo materno, segundo Neuman, primeiramente surge como a figura do Oroboros, a imagem da serpente que come seu próprio rabo. Essa imagem representa a fase indistinta da totalidade, onde se percebe a ausência de opostos, o mundo infantil. Os gêneros não são diferenciados ainda. Nessa primeira etapa da experiência humana vivida como a figura do “Grande Círculo”, aparece a figura da mãe propriamente dita pela primeira vez. Já como uma figura primordial, é aquela que é a origem de tudo, porém também representa a dependência do ser humano a sua influência, surge aí a díade da Mãe Bondosa e a Mãe Terrível, sendo elas duas muitas vezes fazendo parte da mesma figura. A mãe então é tanto a que dá luz, que protege e cuida, também têm qualidades destrutivas como a de devoradora.

                Esse aspecto denota a fase onde o inconsciente predomina na vivência psíquica do sujeito, onde não há um ego individualizado. O sujeito não se enxerga separado do mundo, sendo o mundo uma extensão de si. Está presente na psicologia do primitivo, nos seus rituais mágicos. 

                  Quando o sujeito passa a se diferenciar da influência materna, constituindo um ego separado do inconsciente, a figura feminina aparece como anima, como a parte feminina do homem. Assim, toma características transformadoras da psique. O Feminino então é representante do mundo inconsciente,  ameaçando as estruturas conscientes, gerando assim um conflito próprio dessa dinâmica:


Com a emergência de algo que é "como a alma" - anima - a partir do Grande Feminino ( o inconsciente), modifica-se não só o relacionamento do ego com o inconsciente, e do homem com o Feminino, como também a atuação do inconsciente dentro da psique adquire formas novas e criativas - Neumann, p. 42

     

                  O importante símbolo primordial do arquétipo materno é o vaso. Que é muito associado ao corpo, também consequentemente o mundo instintivo do inconsciente, a parte desconhecida do ser. É o lugar onde as coisas são geradas, onde há proteção necessária à gestação. Também como oferta de alimento. 

                         Do vaso surge também a representação do ventre, sendo o ventre contendo o útero, o lugar subterrâneo, associado a fenda, caverna, abismo, precipício. Caverna também é um símbolo associado à montanha. É aí onde as coisas nascem, para isso um lugar protetivo, que permite a gestação de algo, porém também é um lugar associado ao túmulo. Daí estão presentes tanto a vida quanto a morte. O túmulo é o local onde se guarda a morte, precisando também de proteção.  

                       





      Nota sobre o arquétipo:

 

   Percebi agora o motivo do arquétipo em minha experiência pessoal, diante de um conflito em um “relacionamento” o símbolo feminino veio à tona (especificamente a figura da mãe). Consegui perceber muito facilmente atributos e mensagem. Compreendi que era algo que estava escondido a muito tempo, coisa que eu não percebia que influenciava minha percepção diante do feminino, ou seja, a anima se tornou uma projeção quando não conseguia integrar a minha personalidade, atuando de maneira independente em mim.

    Depois de um tempo de clausura, logo vieram novas experiências que me tiraram desse modo ermitão. Percebi facilmente que não havia mais necessidade de me esconder, haveria necessidade de um novo contato com o mundo, mas certamente não pararia aí. Não percebia quão profundo era esse motivo.

      Quando me envolvi com alguém de novo algo de profundo foi mobilizado. Então aparece o arquétipo materno em minha vida. Durante esse período ficou clara a sua ambivalência. Em primeiro olhar é uma figura voltada ao cuidado, ao amparo, me trouxe essa necessidade de me acolher e de acalmar minhas ânsias. Porém, ao mesmo tempo é uma figura sólida e distante, como uma deusa ou uma rainha, daí a impossibilidade de me aproximar tanto. O cuidado é feito de cima, como um guia que te apoia quando necessário mas também põe em movimento. Durante esse período, logo percebi outros aspectos. Os conflitos, as dúvidas, a constante luta interna, mostravam o lado negativo da Grande Mãe, o aspecto mais destrutivo, porém necessário. Onde havia o amparo que necessitava? Porém, também havia a necessidade de continuar o processo, acreditar que haveria mais coisas pela frente. 

      Esse arquétipo motivou uma leitura mais profunda sobre ele, em nenhum momento houve um símbolo tão forte. Foi um processo muito difícil. Porém, teve seu fechamento. Até o momento onde cheguei a tentar resolver minha situação com a pessoa. No meio disso recebi uma carta de Tarô tirada por minha mãe que justamente representava a Criança. No momento fez muito sentido, mas foi estranho para mim, não conseguia ver como vivenciar o que a carta me pedia. Mas então consegui terminar a situação com a pessoa, consegui esclarecer os pontos cegos. 

       Agora de manhã volto a ler sobre o Arquétipo, então me vêm o insight: a mãe é o símbolo da gestação, ela gera algo, e o processo do parto pode ser doloroso, mas no fim haverá o resultado, ou seja, uma criança. Agora mais uma vez se fechou um ciclo para começar outro.






quinta-feira, 7 de outubro de 2021

                                 Volto a escrever aqui. Nesse momento é 09:45, um horário que não é usual eu postar algo aqui, pelo motivo que de tarde terei consulta do Biográfico e depois uma conversa com Marina. Também não é uma Carta ao Adepto.

                                   Essa semana passada foi algo que mudou um pouco o curso das coisas, por uma grande sincronicidade aconteceu de ter uma problema com meu siso, que consequentemente baixou minha imunidade e fiquei com sintomas de uma virose. Para mim foi uma grande frustração porque seria a semana onde eu estava juntando energia para realizar as coisas que precisava fazer, comecei com os exercícios físicos, sentia que estava com minha cabeça organizada para retomar meu projeto profissional, mas acabou que isso não aconteceu.

                                     A sensação é como se tudo tivesse em meio a um caos, meu entusiasmo passou, e agora estou um pouco desanimado e confuso. Ontem foi um bom exemplo disso, sentia de fato que não ia lograr. Senti essa angústia até o momento do atendimento com meu cliente, que por incrível que pareça consegui sair da sessão muito mais energizado que antes. Foi algo muito estranho, porém que reacendeu um pouco minha esperança.

                                  Agora a tarde terei minha consulta, penso como poderei aproveitar esse momento para tirar algumas dúvidas sobre mim. Penso em projetos, como ser criativo, porém ao mesmo tempo tendo que lidar com demandas necessárias a minha vida que matam um pouco minha criatividade. Hoje percebo minha criatividade com a necessidade de ser livre, de pensar livremente, de sentir a vontade com o que me interessa, que me instiga fazer, não o que me trará resultados imediatos.

                                     Dentro do caos e da confusão existe algo que não sei nomear, algo que sai da minha capacidade de compreensão. Não sei ao certo da ajuda que posso obter de minha terapia, não sei ao certo do prazer e do contentamento que pode ser obtido das minhas relações, não sei ao certo do que desejo, de quem sou eu, não sei ao certo se estou no lugar certo em minha profissão. Essa incógnita absoluta em todos os aspectos de minha vida me trás essa sensação impotência e angústia, nunca saber ao certo do que está acontecendo e se as coisas estão caminhando para um desastre me dá muito medo, mas eu tenho que conviver com isso.

                                      Mas ontem a noite me veio a ideia do como estou impressionado com as coisas do mundo, mesmo depois da noção de que não dependo do mundo, porém ainda sinto impactado com a impermanência das coisas, com a falta total de controle, que não sei ao certo como abrir mão. Porém me veio de uma entrevista de George Harrison sobre a vida no agora e a importância de saber que sou um espírito. Basicamente sofremos porque somos imperfeitos, não entendemos as coisas, portanto sofremos porque não entendemos, não sabemos lidar com a vida como ela é, então tentamos maquiá-la, colori-la. Me deparo muitas vezes com apegos, me confronto com minha finitude, com o passar das coisas, tanto boas como ruins. Mas o que fica é o agora, com isso não há muito o que se fazer, as coisas vão passar independente de qualquer coisa, os erros vão passar e vão ficar no passado, e o agora é momento da renovação, é momento em que se pode fazer diferente.

                                      Vou finalizar esse texto, com suas imperfeições, sabendo que fechei uma reflexão, mesmo sabendo que outras virão, que outras situações vão vim, e vão me desafiar, bem, faço parte dessa realidade, dessa Roda da Fortuna, sigo em frente como sempre, evoluindo e me desenvolvendo. Abraços e até a próxima. 



Reflexões sobre "Cuidando do Cuidador"

      Esse fim-de-semana houve um evento do meu curso chamado "Cuidando do Cuidador". Fiquei um pouco reticente sobre isso, eu ter...