quinta-feira, 24 de outubro de 2024

                   Me percebo nesse momento. De uma forma bastante diferente, mais consistente, mais presente. Percebo os pedidos do meu corpo, o que ele está me pedindo fazer, o que ele deseja fazer. Não é uma postura fácil para quem está o tempo todo sob controle, não existem formas para chegar a esse estado de fluxo.

                        As teorias que venho me alimentando deixaram de ter um papel ditatorial sobre mim. Agora elas fazem parte de mim como sendo algo que faz parte do todo em que participo. Existo, estou aqui, nesse aqui-e-agora. É de certa forma uma maneira estranha de viver as coisas. Como se o tempo todo fui instado a ter que me comportar de uma certa maneira, não de uma forma espontânea.

                          Queria elaborar um texto que talvez teorizasse as minhas experiências. Agora vejo que isso não tem o mesmo poder, o mesmo significado. Não estou me forçando a nada. Isto, certamente, é um ato arriscado. Não sei qual o próximo passo, não estou mais premeditando o que vou fazer. Só estou participando disso tudo, sem a necessidade de chegar em algum lugar.

                             Talvez esteja aceitando a vida como ela se dá nesse agora. Há algo em mim que pede para me firmar em alguma coisa, em ter definições. Deveria fazer algo com isso? acredito que não. Qual é a próxima? Qual a próxima palavra que usarei? Nada disso importa mais. Não importa mais desejar tantas coisas, querer ter tantas experiências, para me preencher.

                            Revisito meu lugar como profissional. Não me prendo mais tanto a teorias (ou a autores). Consigo enxergar o meu ser em sua inteireza. Exito um pouco. Com um certo cuidado. Já não avanço de forma tão brusca. Existe um silêncio aqui. Deveria aproveitar isso. Dar pausas, fazer intervalos. Contemplar.

                              Sou só um corpo nesse presente. Vivencio algo nesse agora. Sem exigências. Sem planos. De novo o vazio, alguma necessidade querendo ser inserida. Espero. Sem pressa. Até nessa tranquilidade existe intensidade, existe beleza. Almejei por tanto tempo uma experiência mais estética das coisas. Venho batalhando, lutando para vivenciar as coisas de forma mais sensível. Agora esse é o momento. Não há nada para se fazer. Nenhum lugar a se chegar. Posso relaxar e deixar as coisas fluírem.

                              Quero terminar esse texto. Certamente gostaria de expressar mais coisas. Talvez não há nada mais a se escrever. Permito que esse momento seja do jeito que ele é. Percebo o escuro do final da tarde, os sons em volta. Olho para a janela, não me demoro. Quero sair um pouco. Agora aqui me despeço desse texto para admirar a paisagem.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Organização e re-organização de si

                 Estou doente, não muito. Sentir isso me faz rever a minha forma, a forma como lido com as coisas. Minha energia não está a mesma, me permito perceber isso e me deixar levar, apesar de que há algum tipo de resistência. 

                   Novos caminhos estão se abrindo, novos horizontes. Vejo novas possibilidades, e isso está me tomando por inteiro, de fato é um sentimento estranho. Vejo a minha diferença do atual estado, como se minhas tensões fossem deixadas de lado, posso deixar fluir um pouco. Isso certamente me dá medo, primeira vez que eu não estou tentando controlar tudo, que de certa forma essa necessidade ainda persiste. Ainda me sinto um pouco ansioso, querendo produzir cada vez mais, ter mais conhecimento, assumir novos projetos. Mas sei da necessidade de pausas, de ter paciência.

                   Ontem tive a ideia de criar um grupo com algumas alunas do curso de Terapia Familiar. Minha ideia era gerar mais novidade, criar novas redes, gerar novos conhecimentos. Por enquanto não surgiu nada muito novo. Porém, tenho a compreensão que é um espaço de experimentação, não se sabe os resultados disso. Vejo que tudo isso é imprevisível, não é possível almejar uma síntese, um resultado final.

                  A ideia do grupo meio que surgiu a partir de um insight que tive. Percebi que de fato tudo é político. Não precisamos enclausurar a ideia de política em uma organização ou partido. Uma palestra pode ser um ato político, uma sessão clínica pode ser um ato político, uma obra de arte pode ser um ato político. Cada ato é um ato político.

                 Agora, tudo retorna para um estado de indefinição, como se eu perdesse o sentido de referência. Essa sensação de estar perdido aciona a minha necessidade de segurança. Tento deliberar sobre isso, talvez não seria um caminho inteligente. Talvez seria mais interesse se lançar na experimentação, acontecer junto aos acontecimentos e ver no que dá. Era isso que eu idealizava já faz um tempo e agora vejo que é possível.

              Dou voltas na questão da identidade. Já não sei mais quem eu sou direito. Tentei sustentar uma imagem que agora duvido sobre ela. Até que ponto ela é de fato eu? Talvez existam outras formas mais interessantes, que deixei inexploradas. Certamente existe esse ímpeto para conquistar novos territórios, porém, sei que devo deixar as coisas acontecerem em seu próprio tempo. Não é possível abraçar tudo de uma só vez, é preciso deixar as coisas serem desveladas aos poucos.

              Sou tomado por uma sensação corporal, que oblitera minha percepção. Me desorganiza e cria outro tipo de percepção. Não estou mais preocupado com quem eu sou ou com o que eu vou fazer. Talvez seja importante passar por essa experiência, desejar uma nova forma de ser. Hoje, não me importei muito por regras e padrões, fiz o que o meu corpo suportou fazer. Disso, vejo que posso ser mais criativo. Faço o que é possível, minha mente não está mais no comando.

                  De novo o cansaço, finalizo esse texto com essa sensação. Não há mais nada, só um vazio. Não me desespero, não procuro algo a me agarrar, só aconteço. É esse momento que me define, é essa experiência que diz sobre mim. Escuto um pouco o silêncio, vivencio esse agora.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

            Esse fim de semana passado estava de novo em Gravatá, só que agora com a família. Foi importante estar com as familiares junto com minha namorada. Porém, houve momentos difíceis. Estava lidando com minhas emoções, pensamentos, comigo mesmo, com uma pessoa que estou me relacionando e com os familiares. Houve uma série de questões que se apresentaram. Acredito que consegui lidar de forma razoável, busquei sustentar esses conflitos de alguma forma, pelo menos da forma como eu pude.

                De fato não está sendo um momento fácil. Estou passando por uma transformação profunda. Uma transformação dolorosa. Por um lado pude sair do modo como eu era antes, agora existe outra realidade, um outro modo de ser. Estou tentando lidar com os desafios dessa nova fase. Não sei ao certo para onde isso está me levando, também estou tentando não resistir esse processo. Óbvio que existe sempre receio, mas tento acreditar que não é necessário estar receioso.

                  Agora sinto uma certa melancolia. Estranho sentir isso, pois estava percebendo um outro tipo de movimento. Me sentia mais eufórico, mais acelerado. Agora, nesse momento, sinto um esvaziamento. Sei que preciso aceitar isso, mas não é fácil. Existem tantas coisas que estou tentando construir, estou com uma visão mais positiva da vida. Mas daí percebo que existe uma outra face, um outro lado disso tudo. Me apego em minhas convicções, em minhas identidades. Quero construir algo a partir do que já estou adquirindo de conhecimento, de ideias e reflexões. Tenho um mapa que desenhei para seguir. De novo a questão do controle, quero entender cada parte de minha vida. Mas nesse momento só resta a melancolia.

                   O que esse sentimento me diz? Não existe movimento, estou parado. Vivencio o vazio fértil. Faço uma pausa. Percebo esse momento. Existe o silêncio, algo indefinido. Não quero apressar esse processo, talvez ele tenha que se dar sozinho. Devo me refugiar no medo? Respiro um pouco. Escuto o som do vento. Está anoitecendo. Aceito isso que está acontecendo, sem reservas.

                   Estamos tão atolados em nossa realidade que não nos permitimos isso, contemplar. Tento chegar em algum lugar, ter metas, me organizar, deixar tudo bem certinho. Não tenho como evitar minha humanidade, essa existência que acontece agora. Outro vazio...

                      Escuto os sons. De volta ao silêncio. Um barulho distante. Estranho. Almeja escrever mais coisas, elaborar mais coisas, mas agora só resta perceber. Deixar que isso aconteça. Como me sinto agora? Um pouco melhor. Ainda um pouco indefinido. De volta a minha inocência.


Entrevista para genograma de minha família

             Ontem, fiz uma entrevista com minha prima para fazer meu genograma. Deveria ter feito isso já um tempo, mas acredito que foi p...