quinta-feira, 27 de junho de 2024

Reflexões sobre "Cuidando do Cuidador"

      Esse fim-de-semana houve um evento do meu curso chamado "Cuidando do Cuidador". Fiquei um pouco reticente sobre isso, eu teria de acordar cedo, coisa que eu não venho fazendo já um bom tempo. O evento ocuparia boa parte do dia, não teria muito tempo para atividades de lazer. Porém, sabia que tinha uma importância ir, marcar presença nesse espaço. Talvez não seria um grande sacrifício, haveria outros fins-de-semana para curtir o tempo livre.

    No sábado, consegui acordar num horário razoável. Cheguei um pouco atrasado, mas o evento ainda não tinha começado. Quando cheguei no prédio, estranhei, pois era uma galeria que já tinha passado algumas vezes. Subi até o último andar, lá entrei numa sala que tinha uma escada circular. Ouvi uma voz lá de cima me chamando. Subi a escada e me deparei com uma sala com várias almofadas. O espaço era bem confortável.

    A atividade que foi proposta basicamente durou o dia inteiro. Foi uma boa experiência para introduzir cada pessoa ao grupo, pois seria a primeira vez que nós tínhamos nos encontrado presencialmente. As facilitadoras colocaram fichas com imagens de animais no chão, deveríamos escolher um animal em que nos identificaríamos. Escolhi o corvo. Depois fizemos grupos para discutir nossa relação com esse animal. Eu imediatamente consegui reconhecer aquilo que me fez conectar com esse animal. O corvo seria um animal da noite, uma figura sombria, que vive a margem. Existe algum elemento de estranheza no corvo, ao mesmo tempo de uma seriedade soturna que me identifico. Sempre me sinto a margem de tudo, como um observador alheio ao mundo. Esse elemento de estranheza, de distinção, me contempla muito.

    Para ilustrar um pouco que estou dizendo, gostaria de escrever um pouco sobre o significado do corvo em específico:

Têm um aura de algo sinistro. Suas grasnadas podem tanto serem vistas como inspirações de coisas celestiais, tanto quanto parecer algo de inconveniente, desinquietantes e destruidoras do status quo. São portadores de mistérios velados. Os corvos do deus nórdico Odin, Hugin e Munin ("Pensamento" e "Memória) podem ferir nossas ilusões e pretensões. Representa o estado alquímico do nigredo conhecido como Capus Corvi. Evoca a mortificação, reduzindo aos ossos da veracidade psicológica. São as inibições, sublimações, coobações ou digestões da matéria. É símbolo da solidão, do isolamento voluntário, daquele que resolve viver um plano superior. Na maior parte das crenças, o corvo aparece como herói solitario, muitas vezes demiurgo ou mensageiro divino. É uma figura guia, um psicopompo, que penetra, sem se perder, no segredo das trevas. No Japão é um mensageiro divino, na China é um pássaro solar, princípio associado ao Sol, representação do yang, ímpar. Consagrado a Apolo, é mensageiro dos deuses, obtém funções proféticas. O corvo aparece nas lendas célticas, tendo um papel profético. Na Gália eram animal sagrados.

Tendo isso em vista, consigo observar de uma forma mais ampla o que esse animal significa. Entendo que essa experiência desse final de semana carregou um significado muito profundo que talvez levarei um tempo para compreender. Não sei ao certo como sintetizar isso tudo, mas posso trazer alguns aspectos da minha experiência pessoal que podem ajudar a dar luz a isso que estou pensando.

  Acredito que essa primeira vivência serviu como mote para o evento como um todo. Me percebia de fato a parte do grupo, Observando o que estava acontecendo, tanto quanto me observando. Muitas vezes essas duas tendências não pareciam coincidir. Me sentia compelido a prestar atenção ao que estava acontecendo no ambiente, estar presente, conseguir assimilar tudo que estava sendo dito, ao mesmo tempo existia algo interno acontecendo, vários pensamentos apareciam para mim e não conseguia me concentrar direito.

  Demorou para entender que tudo aquilo era muito intenso para mim. Levei um bom tempo me resguardando do mundo, envolto aos meus próprios pensamentos. Tentava compreender certos conceitos que venho adquirindo com minhas leituras. Refletia muito sobre tudo isso, porém não enxergava uma relação direta com o mundo em minha volta. Existiam muitas intenções sobre tudo, muitas propostas que sentia que nunca conseguiria levar a cabo. Acredito que essa experiência me fez compreender de forma mais concreta tudo que estava no abstrato.

  Me dei conta de uma série de coisas. Percebia como o ambiente tem uma importância para criar uma percepção sobre a realidade. Estava num bairro que era um tanto familiar para mim. Mas de repente pude assumir um novo olhar sobre a territorialidade em que estava inserido. Muitos momentos em que dava uma pausa para fumar, percebia os movimentos do local: trabalhadores realizando construções, crianças jogando futebol, carros no tráfego, prédios e mais prédios. E havia o momento da vivência. Haviam pessoas ali contando suas histórias, interagindo entre si. Existiam meus sentimentos, meus desconfortos. Existia o contato com os outros, naquele momento presente.

   De repente chegou a minha vez de falar. Não esperava que iria me abrir tanto sobre mim mesmo. Me senti um pouco exposto, mas vejo que foi necessário, já que os outros também falaram sobre si. Um ponto que se destacou foi a minha auto-exigência excessiva. Esse primeiro momento apareceu mais com a minha relação aos outros. Existe uma crença inconsciente de querer ser perfeito, de dar conta de tudo. Então estou sempre em busca de conhecimento. Não acredito que essa busca seja de todo desnecessária, vejo como um traço importante para mim. Porém, vejo o excesso disso e como cria uma necessidade defensiva perante o mundo, não me permitindo ser quem eu sou, sempre buscando algo a mais daquilo que já estou sendo.

 Essa auto-exigência apareceu em dois momentos. O primeiro, foi ligado a relação com os outros, no segundo em relação a mim mesmo. Percebo que também exijo de mim mesmo, quero ser perfeito também para mim mesmo, que tudo ocorra bem, que tudo esteja dentro dos conformes. Consigo entender melhor minha necessidade de controle. 

  De resto percebo que houve uma mudança sensível sobre como vejo minha própria vida e a minha relação com outros. No final do evento, me senti extremamente exausto. Compreendi que todo esse processo sugou minhas energias e como isso acontece em vários momentos quando estou com outras pessoas. Talvez cheguei a conclusão que de fato eu preciso me fechar um pouco para o mundo para tentar me preservar. Porém, me questiono em relação a isso. Tudo isso talvez faça parte do processo, talvez eu não deveria tentar excluir algo de minha vida, mas tentar me aproximar disso de uma maneira mais sábia.

Também tive uma compreensão maior sobre algumas reflexões que venho tendo. Tinha a certeza que a realidade é criada a partir da relação. Essa experiência me fez ter um entendimento mais aprofundado em relação a isso. Tudo que foi experienciado ali tinha uma verdade muito contudente, e aquilo só poderia ser compreendido a partir daquele espaço e tempo. No final das contas somos uma partícula diante de um todo, que sempre se move, que sempre está modificando, a cada experiência.

  Ali ficou claro que as questões de nossa sociedade são acompanhadas por uma subjetividade. Tudo que está presente em nossa história, em nossa cultura, está presente também nas pessoas, em sua vivência de vida e a vivência daqueles que se relacionam. Para mim fica claro, que não há respostas prontas para as questões sociais, que a psicologia pode sim ter um papel na nossa sociedade, pois carregamos marcas que devem ser levadas em consideração.

   Aqui é pertinente falar sobre a Teoria de Campo. O campo seria justamente esse espaço compartilhado, essa experiência no aqui e agora. O campo é singular, ele não pode ser replicado. Então percebo que a vivência do fim-de-semana foi algo único, que revelou algo próprio das relações no presente. Isso me faz pensar nas relações com a sociedade, ou seja, a sociedade não é um bloco fixo, é um processo. Vivemos o social diante de outras pessoas no momento presente. Nos constituímos em relação ao outro. Então essa realidade é criada a partir da relação, ela é simultaneamente objetiva e subjetiva, então ela surge como uma gestalt, ou seja como uma totalidade.

   Outra percepção que tive foi que não há uma teoria que defina completamente o que o ser humano é. Nunca conseguiremos adentrar os mistérios do que é o ser humano, nunca daremos conta de suas vicissitudes. Sempre estamos redescobrindo o que é o ser, até porque ele se refaz a todo momento. Então, entendo que o ideal descentralizador que vejo em Goodman não se dá apenas a partir práticas políticas, mas também uma proposta da descentralização de nós mesmos. Abolimos então a ideia de que existe um centro a governar nossas vidas. Uma verdade essencial para as coisas.

 

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Sobre o Intelectual

  Tenho o desejo de fazer um breve resumo e comentário sobre o texto do Goodman sobre o tipo intelectual. Pretendo também trazer essas questões para minha terapia porque encontrei pontos importantes para a reflexão em relação a mim mesmo.
  Primeiro aspecto que aparece sobre esse tipo é como ele lida com a raiva e o luto. O intelectual se utiliza de seu pensamento abstrato para não entrar em contato com esses dois aspectos. Eles evitam o objeto que lhe trás a sensação de raiva e luto. Essa abstração impede a liberação de sentimentos fortes. Goodman aponta que uma solução seria o "amor intelectual." Me percebo nesse lugar em que estou enamorado com meus pensamentos e com as ideias que surgem a partir das minhas leituras. Me chama atenção esse ideal intelectual que busca nas ideias um amor mais sublime, mas "desapegado" do mundo presente. Isso me trás ao pensamento clássico, mais especificamente a Platão, onde o filosofo é aquele que busca no pensar a libertação do mundo ilusório para então chegar a um mundo ideal.
  Então, se apresenta o desejo do intelectual pelo paraíso. Vejo que esse paraíso seria talvez um lugar em que se reúnem tudo que o sujeito valoriza, esse lugar em que tudo está em harmonia, uma totalidade de leituras, percepções estéticas e vivências. Porém, existe também a frustração, onde esse paraíso não se concretiza. Ele é forçado a se mover naquilo que não conhece, que não está inclusivo naquilo já sabe. Assim, se percebe aquilo que é a vida prática, com tudo aquilo que saí da sua visão de harmonia e beleza. Lida com o que é imprevisto. Daí, o pensamento para o intelectual é uma ferramenta para abstrair a frustração, para tirar uma lição diante daquilo que lhe frustra. Assim, não pode entrar em contato com sua emoções.
  Daí, existe uma busca por sentido na vida. Interpretar o acontecimentos e trazer uma compreensão sobre eles, também a busca por alcançar um estado em que as coisas são perfeitas e fluem de modo favorável. Conjuntamente há um interesse em obter um visão aprofundada da vida. Talvez há aí um grande abismo entre ele e o mundo, o intelectual apresenta uma raiva de si mesmo, de sua própria estupidez. Aí então, também apresenta uma raiva em relação a o mundo. Talvez aja uma sensação profunda de incompreensão diante do mundo e de si mesmo.
   Então Goodman fala sobre a impaciência do tipo intelectual. Essa impaciência pode surgir a partir de um adiamento do desejo (impaciência aguda) ou uma antecipação do objeto desejado (impaciência crônica). Aqui, o tipo intelectual não pode se valer por aquilo que está presente, ele se apresenta entediado.
  Percebo isso tudo de uma forma muito próxima a mim. Uma busca constante de extrair sentido sobre as coisas, uma dificuldade de sentir de forma aprofundada, com isso também uma impaciência, buscando fazer presente aquilo que está ausente. Mas com a terapia (e outros acontecimentos), me fizeram compreender que a paciência é necessária para ler mais claramente a realidade, muitas vezes as coisas se dão sem minha intervenção, sem meu controle. Não sei ao certo como acionar isso de forma voluntaria, acredito que sempre existe algum tipo de controle sobre as coisas. Mas por outro lado, percebo que há uma possibilidade de assumir uma postura mais "zen" sobre as coisas, uma deixar acontecer, deixar que a natureza tome conta dos acontecimentos.
  Outro ponto que gostaria de ressaltar é o fato de que Goodman tinha um interesse ético sobre a natureza humana. Vejo nesse ensaio uma busca para entender o que acontece na experiência humana em sua totalidade. Não existe uma centralização em suas investigação, voltado por um único ponto, ele busca uma variabilidade da experiência. Vejo aqui, uma tentativa de compreensão de uma maneira específica de ver o mundo, um comportamento de certos sujeitos. Ou seja, uma análise, e não uma teoria.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Encontros com esoterismo e filosofia

   Entro em contato com outros pensamentos. Hoje pela manhã pensei sobre voltar a prática do *Manual do Ano*, só que mês que vem. Estava estudando a carta do 21. Mundo, me veio essa ideia de que eu gosto, de que na magia é possível se utilizar de certas conhecimentos sobre a natureza extraídos da alquimia e da astrologia. É um conhecimento distinto da ciência tradicional, se volta para uma perspectiva mais filosófica e simbólica. Já tinha pensado que ser um mago é uma espécie de mescla entre a figura do cientista com a de um sacerdote. O mago tanto tem uma atitude ativa e experimental, quanto um aspecto de devoção sobre as coisas.
 Não sei precisamente se é esse meu caminho, há momentos que ponho isso em dúvida, penso que talvez esteja servindo a meu ego quando eu tento fazer com que certas coisas se encaixem em minha vida apenas através da minha vontade. Mas quando estudo algo relacionado a isso, me parece tão interessante e tão real para mim. Me sinto realmente exercendo um poder, que raramente sinto que tenho. Também penso sobre me alinhar a natureza, fazendo parte do cosmos, onde minha vontade se faz presente. Não sentiria que minha vida é um conjunto de acidentes, tudo pode se unir de forma harmoniosa.
 Existem claro outros pontos de vista, outras maneira de exercer tudo isso. Penso que por um lado haveria um caminho mais simples, que não despenderia tanto esforço. Esse caminho me soa um pouco desconhecido, talvez aja uma maior mobilidade nesse aspecto. Não abriria mão dos meus interesses, como o tarot e outros conhecimento, mas talvez não iria trilhar esse caminho da mesma forma que o que citei em cima.
 De qualquer forma terei um mês para tomar essa decisão. Depois desse mês espero estar confiante no caminho que escolhi. Portanto, preciso encontrar um tempo para refletir, meditar, para talvez então chegar a uma conclusão.
 Outro ponto que gostaria de citar, é o meu contato com a filosofia. Penso que foi um contato um pouco tardio, pois, meu interesse por filosofia já é antigo. Acredito que talvez agora tenho de fato uma maior maturidade para isso.
 A princípio, lendo Platão, me trás para um pensar voltado as coisas, um pensar sensível sobre tudo que nos constitui como seres humanos e habitantes desse planeta. Acredito que isso me trás a um entendimento do princípio de qualquer pensamento posterior. Por exemplo a questão do ser e do não-ser. Primeiro entender o que é o não-ser, e depois o que é o ser. A partir disso, chegamos a ideia de filósofos que defendem a ideia de um Todo e outros que defendem a ideia de um múltiplo. Daí, se chega o questionamento de o Todo pode se dividir em muitos, ou se o múltiplo pode vir a se constituir num Todo.
 Ainda há aqueles que defendem a ideia de que as coisas existentes são apenas aquelas que podemos tocar e sentir. O corpo seria o centro de tudo. E esse corpo está em constante movimento, é um devir. Enquanto que outros acreditam que só as coisas invisíveis são de fato as verdadeiras. Eles acreditam que tudo é imóvel.
 Essas ideias diversas me fazem pensar com esses conceitos foram elaboradas durante a história da filosofia. Acredito que elas suscitam uma série de questionamentos sobre o que é o ser, sobre o que é o mundo. Por trás de todo tipo de pensar há esses conceitos, é a base para tudo que entendemos como vida e existência, sobre as coisas que constituem quem nós somos e com aquilo em que nos relacionamos.
 Pretendo de alguma forma fazer uma ponte com todos esses conhecimentos. Como na carta do 21. Mundo, existe uma totalidade de percepções e vivências que fazem parte de mim e me constituem. Não sei ao certo se deveria me apegar a uma única parte, a um único aspecto de mim. Busco abraçar quem eu sou de forma total e permitir que essa diversidade se manifeste.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Caminho do andarilho

      Hoje aconteceu algo interessante. Fui para uma consulta com uma terapeuta holística. Pensei no que iria falar para ela, houve uma certa expectativa que essa sessão iria me ajudar de uma forma especial. Também havia um certo receio, mas decidi ir mesmo assim, pois sinto que precisava de algo que fosse além das terapias comuns.

    Saí da sessão bastante impressionado. Foi mais do que eu esperava. Ela tocou em pontos muito certeiros. Venho num processo longo, de muita elaboração. Me deparei com muitas questões, relacionados a mim e aos outros em minha volta. Acredito que ela conseguiu tirar o que havia de melhor em mim.

    Acho que o ponto central de tudo isso é o meu propósito. Talvez desde o ano passado esse quesito tem demandado muito de mim. Muitas vezes intuito que seria ele, tento entrar em contato com minha essência. Por outro lado, vejo que isso entra em conflito com o pensamento dos outros. Sinto constantemente que estou na contra-mão do pensamento vigente. Isso tem me desgastado.

    Um ponto que ela trouxe foi o fato de que em outra vida eu seria um andarilho, um eremita. Isso foi diretamente coincidente com a carta que tirei para esse ano, O Eremita. Também me veio a mente a relação com meu signo, Sagitário. De fato me identifico com alguém que está sempre se movendo, sempre em busca. Através disso agrego uma diversidade de conhecimentos e percepções. Essa imagem revela muito do que eu sou, não me sinto totalmente confortável com uma única vertente de pensamento, com uma única perspectiva. Sempre estou em experimentação e descobrindo novos caminhos.

   É um aspecto que venho me debatendo a um tempo. Qual seria de fato meu caminho, o meu lugar. A minha experiência aponta muitas vezes que não existe isso, que estou em diversos lugares, provando diversas coisas. Muitas vezes isso me parecia confuso, mas pelo que ela falou isso faz parte de quem eu sou. Ela adicionou ainda que precisava explorar também o mundo exterior, que deveria me abrir para essa experiência. Talvez esse ponto que me dá mais resistência e medo. Mas, segundo ela, eu estou pronto para fazer isso.

  Me sinto feliz por compreender melhor minha natureza e saber respeitá-la. Cheguei ao entendimento de quem eu sou e das minhas possibilidades. Sei que posso confiar na minha intuição, que posso percorrer esse processo que é minha vida sem ter medo. Posso me permitir sonhar, deixar minha imaginação fluir. Era algo também que achava que teria que abrir mão, pois algo no mundo poderia me castrar.

   Depois da sessão me senti mais confiante. Porém, existe ainda um pouco de ansiedade, o medo de me desviar, ou de perder a fé. Acredito que tudo que foi dito por ela reforçou o que venho pensando sobre mim e a vida, só que não tinha quem me desse essa validação. Existe de fato o receio de estar pisando em falso, porém por um lado na sessão me veio a ideia de que precisava confiar nisso, que era uma oportunidade para seguir em frente.

   Então, vejo que posso atravessar esse processo, ter menos medo de me colocar no mundo e tentar. Posso também confiar na minha trajetória e ter mais fé em mim mesmo. Isso me fez me ver de uma forma mais positiva, e também me fez perseverar nas coisas que me dão sentido. Quero cumprir aquilo que me levou a estar aqui na terra, quero alcançar tudo aquilo que me for ofertado, Que assim seja!

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Gravatá e o último episódio de Evangelion

      Voltei de uma viagem para Gravatá durante o carnaval, com dois amigos e família. Não sei ao certo se gostaria de detalhar a experiência, mas o que queria destacar mais foi ter visto o último episódio de Evangelion quando cheguei em casa.

     Durante a viagem tive alguns conflitos (como sempre). Eu observava como era diferente do outro, isso gerava um grande desconforto de estar com outras pessoas. Pensava que deveria me isolar, que eu nunca conseguiria dar conta de conviver com pessoas tão distintas de mim. Me sentia alienado da realidade do mundo. Não conseguia fazer uma interação satisfatória.

  Essas coisas me fizeram me dar conta de coisas em mim. De padrões de pensamento. Acredito que sou muito introvertido, muito voltado para as minhas coisas, para as minhas reflexões, sentimentos, etc. Ao lidar com outras pessoas gera um conflito, daí vem uma dificuldade muito grande de lidar com tudo isso, de ter que me esforçar para ser ouvido, para me incluir no que está acontecendo. Então aí me isolo. 

   A ideia de ter que me isolar novamente me gerou uma grande angústia. Parecia que tinha que ser algo definitivo, que nunca poderia mais ter que lidar com pessoas. Daí uma sensação muito profunda de solidão. Por mais que pudesse encontrar felicidade em meus interesses, nunca seria de fato auto-suficiente. Daí teria que lidar com o outro extremo, me ausentar completamente de mim, buscar me fundir ao outro. Assumir uma identidade alheia a mim mesmo, assim me violentando.

    Tudo isso estava presente no que Evangelion trata. Um personagem em que sofre justamente com isso. Como preservar a si mesmo? Como manter a própria identidade? Será que o outro me odeia? Todos esses questionamentos aparecem no episódio. Então outras figuras aparecem na consciência de Shinji, dizendo para ele que só poderia se reconhecer diante do outro, ele só poderia se reconhecer como um ser separado do outro, estando com o outro. Ele lida com esse conflitos durante um tempo, se debate com suas inseguranças e medos. Até chegar a conclusão que precisa dos outros, que precisa estar nesse mundo.

   Ver que a introversão não é um meio para se isolar, que pode ser uma condição para estar no mundo me deu outra perspectiva. No episódio ele trata sobre esses vários eus habitando em uma só pessoa. Vários episódios isso é demonstrado. Temos diversas versões de nós mesmo em outras pessoas. Experimentamos diversas realidades. Eu estava em conflito com isso, para mim ou havia um mundo múltiplo de experiências ou uma perspectiva estável da realidade a partir de uma percepção interior. Para mim essas duas visões não conviviam entre si. A partir do episódio percebi que essas duas perspectivas se complementam. No episódio várias perspectivas são tratadas, elas podem dialogar entre si, é possível que elas converjam.

                                        

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

  Ao ler Fédon me deparo com um conceito bastante platônico. Sócrates aqui defende a ideia de que o filósofo por ser um amante da sabedoria deseja a morte como forma da libertação da alma do corpo. Segundo ele, o corpo seria algo que impede a compreensão plena da verdade. Entende que nossos sentidos nos enganam e que aquele que busca a verdade deve buscar cada vez mais um pensamento livre do mundo sensorial.

  Isso de fato contraria a filosofia fenomenológica, que vê no mundo sensorial a forma em que de fato percebemos o mundo. Platão certamente caí em um pensamento idealista ao pensar que existe a possibilidade compreender as coisas em-si a partir do momento em que nos retiramos da realidade, para alcançarmos o pensamento puro.

  Essa compreensão me lembra muito a carta que tirei para esse ano, (IX) O Eremita. Toca muito nas reflexões que venho tendo sobre a vida solitária e a contemplação. Tive que me afastar do mundo para chegar a uma compreensão muito minha da realidade, tive que me "purificar" para chegar a uma visão mais nítida sobre mim e sobre minha vida.

   Em Mathematic and occultism de Rudolf Steiner, chega na mesma conclusão. Aqui ele trás a influência da matemática como forma de chegar a uma compreensão pura do mundo espiritual, para além do mundo sensorial. Venho praticando suas meditações, agora me utilizo de frases que ele recomenda para chegar a um estado meditativo. Percebo que existe uma certa paz quando faço essas meditações, compreendo que essas frases contém algo de oculto que nos leva a uma compreensão mais aprofundada de nosso ser.

   Penso, que de alguma forma a espiritualidade sempre foi uma questão importante em minha vida. Hoje, me deparo com esses pensamentos e me pergunto até onde eu me alinho nessa perspectiva. Não consigo considerar a ideia de que devemos dispensar a atenção ao nosso corpo e só dar vazão ao espírito. Também não consigo aceitar completamente uma visão puramente materialista do mundo. Esse final de ano me mostrou inclusive essa impossibilidade, de apenas abraçar um lado e rejeitar o outro.

  Volto ao dualismo junguiano. Sempre em conflito com duas perspectivas que parecem totalmente opostas. Tento sustentar esse estado de conflito. Muitas vezes me sinto atordoado com isso, mas acredito que deva ser necessário manter minha paciência e seguir refletindo e lendo mais.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Anarquismo e espiritualidade

 Nota: Aqui vou apresentar alguns tópicos que tirei de um post sobre o tema acima citado. São tópicos que apontam princípios que busco aplicar em minha vida e que soluciona alguns conflitos que venho tendo. Pretendo colocar mais coisas desse tipo aqui no blog, já que era minha intenção original colocar assuntos diversos no blog. Espero que esse post me inspire para futuras postagens desse tipo.

1. Explore suas próprias crenças e valores: Reflita sobre suas convicções políticas, sociais e espirituais, questionando e examinando-as de forma crítica.

 2. Busque a autonomia: Valorize sua capacidade de pensar, agir e tomar decisões independentes, tanto no âmbito político quanto no espiritual.


3. Desenvolva sua consciência política: Esteja ciente das estruturas de poder e das hierarquias opressivas presentes na sociedade, buscando desafiá-las e trabalhar pela igualdade e justiça.


4. Pratique a autodeterminação: Assuma a responsabilidade por sua própria vida, tomando decisões informadas e agindo de acordo com seus valores.


5. Cultive a empatia e a solidariedade: Reconheça a interconexão entre todos os seres humanos e busque agir com compaixão e apoio mútuo.


6. Questionar as autoridades: Desafie as instituições e figuras de autoridade, examinando criticamente seus ensinamentos e comportamentos.


7. Promova a descentralização do poder: Busque formas de organização social que valorizem a participação igualitária e a tomada de decisões coletivas.


8. Pratique a não-violência: Busque resolver conflitos de forma pacífica e promova a resolução de problemas por meio do diálogo e da compreensão mútua.


9. Explore diferentes tradições espirituais: Estude e aprenda sobre diferentes caminhos espirituais, encontrando elementos que ressoem com seus valores anarquistas.


10. Cultive a espiritualidade individual: Desenvolva práticas espirituais que sejam significativas para você, como meditação, contemplação, rituais pessoais ou conexão com a natureza.


11. Busque a conexão com a comunidade: Envolva-se em grupos e movimentos que compartilhem seus valores anarquistas e espirituais, promovendo a colaboração e a troca de ideias.


12. Desenvolva uma ética de cuidado: Valorize a importância de cuidar de si mesmo, dos outros e do mundo ao seu redor, buscando a harmonia e o equilíbrio.


13. Pratique o desapego material: Valorize mais os relacionamentos e experiências do que a acumulação de bens materiais, buscando uma vida simples e consciente.


14. Seja crítico em relação às hierarquias religiosas: Questionar a autoridade religiosa e buscar uma relação pessoal com o sagrado, evitando a submissão cega a líderes religiosos.


15. Equilibre ação e contemplação: Encontre um equilíbrio entre a ação política e social e a busca interior pela espiritualidade, permitindo que ambos se fortaleçam mutuamente.


16. Pratique a gratidão: Reconheça as bênçãos e as coisas positivas em sua vida, cultivando um sentimento de gratidão e apreço pelo presente.


17. Promova a diversidade e a inclusão: Valorize e respeite a diversidade de crenças, culturas e identidades.


18. Busque formas de resistência criativa: Explore meios de expressão artística e cultural para promover a conscientização, a transformação social e a busca espiritual.


19. Aprenda com a história do anarquismo e movimentos espirituais: Estude as experiências passadas de anarquistas e tradições espirituais para obter insights e inspiração para a sua própria jornada.


20. Cultive a sabedoria e o conhecimento: Busque constantemente aprender e expandir seus horizontes, explorando diferentes filosofias, religiões e teorias políticas.


21. Esteja aberto ao diálogo e ao debate: Esteja disposto a ouvir diferentes perspectivas e opiniões, mesmo aquelas com as quais você possa discordar, e busque o diálogo construtivo para promover o entendimento mútuo.


22. Valorize a sustentabilidade e o cuidado com o meio ambiente: Reconheça a importância de viver de forma sustentável e respeitosa com a natureza, buscando formas de preservação e proteção do meio ambiente.


23. Pratique a autenticidade: Honre sua verdade interior e viva de acordo com seus princípios e valores, buscando a congruência entre suas convicções políticas e espirituais.


24. Seja paciente e resiliente: Reconheça que a busca pelo significado da vida, tanto no âmbito político quanto espiritual, é uma jornada contínua e que requer tempo, esforço e perseverança.


25. Nunca pare de questionar: Mantenha-se curioso e sempre busque aprender e evoluir, questionando tanto suas próprias crenças e práticas quanto as estruturas sociais e espirituais estabelecidas.

Reflexões sobre "Cuidando do Cuidador"

      Esse fim-de-semana houve um evento do meu curso chamado "Cuidando do Cuidador". Fiquei um pouco reticente sobre isso, eu ter...