Para Walker
I
Hoje tive algumas reflexões políticas de manhã, fiquei as voltas em relação a que opinião adotar, a partir disso pensei bastante em relação a construção da Sociedade Fabiana. De novo cheguei a conclusão que seria melhor seguir sozinho, cheguei até a flertar um pouco com o pensamento do anarquismo individualista.
Voltei para meus afazeres, até chegar um ponto quando estava pesquisando sobre Dadaísmo e Surrealismo conheci um livro chamado Morning Star: surrealism, marxism, anarchism, situationism, utopia. No momento achei que fora um grande achado, só depois caiu a ficha que era tudo que precisava ter encontrado. Abriu mais uma vez a ideia de fazer uma pesquisa, de dedicar a um mestrado.
Essa questão nasceu através de um longo processo de reflexão, não sei ao certo como organizar todo esse conteúdo aqui. Desde o ano passado venho tendo essa reflexão, com a criação da Sociedade Fabiana, tenho pensado na ideia de fazer um debate entre as diversas correntes do pensamento progressista, não centralizando em um única visão. Era uma possibilidade de experimentar todo tipo de pensamento, deixando a oportunidade até de se fixar em alguma leitura algum dia ou talvez não. Com a dissolução da sociedade, minha atenção saiu do coletivo para o individual, para mim mesmo.
Assumi isso como uma nova fase da Jornada do Herói. Na Sociedade havia uma busca por uma ordem, mesmo que não fosse o único ponto de vista a ser adotado. No meio desse processo me deparei com novas visões do anarquismo dados pelo Paul Goodman e também leituras do Situacionismo. Sabia que um dia podiam ser aproveitadas. Acabando a Sociedade, me voltei para meu trabalho como psicólogo. O ano de 2021 seria esse momento em que só daria atenção a isso, só poderia de fato ajudar a sociedade em volta pelo exercício da psicologia.
Até agora volto a esse questionamento, que se originou dentro da Sociedade: que perspectiva política adoto? A primeira resposta que me dei foi o livre-pensamento, o não comprometimento que nenhuma visão política em específico. Mas esse problema continuou a me incomodar, principalmente a partir dos acontecimentos recentes.
II
Tendo em vista isso, ainda tento focar na única coisa que tenho uma relação mais íntima, que seria a psicologia. Não busco me arvorar a emitir opiniões fora desse campo, penso mais como outras leituras influenciam minha prática clínica e psicológica. Estudo a Gestalt-terapia, onde as referências são majoritariamente europeias ou americanas. Tendo em vista uma outra realidade espaço-temporal, cheguei a me questionar sobre a possibilidade de trazer para o contexto brasileiro do séc.XXI.
Não gostaria de cair na mesma interpretação comum a psicologia social feita no Brasil, gostaria de utilizar outro referencial, que condiz com ideias que venho tendo, que encontro na própria Gestalt-Terapia. Penso que o Movimento Antropofágico possa me trazer novas perspectivas de entender a realidade brasileira, que não caiam necessariamente numa leitura freiriana ou marxista. Almejo trazer a visão educacional e política de Goodman juntamente com as ideias do Situacionismo, assim criando uma relação direta com as vanguardas da primeira metade do séc.XX trazidas por Oswald de Andrade ao Brasil em seu Movimento Antropofágico.
Entendo que posso encontrar essas leituras em três obras, Utopia Antropofágica, Morning Star: surrealism, marxism, anarchism, situationism, utopia, do Michael Löwy, A Ontologia Gestáltica de Paul Goodman, de Marcos Cézar Belmino. Ao meu olhar essas três obras prometeriam uma olhar totalmente renovado para uma série de questões. Uma saída para um perspectiva de maior autonomia, abrindo espaço para novas formas de ação, tendo vista uma ideia contemporizada e adequada a realidade brasileira. Unir então uma perspectiva estético-política para o exercício da prática psicológica seria de grande interesse, e definir qual perspectiva cabe melhor praticar.